A grande mídia – Folha, Estadão e Valor Econômico – reconhece que a prometida recuperação econômica de Temer fracassou

23/11/2016 | Economia

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A grande mídia brasileira – Folha, Estadão e Valor Econômico -, com base nas expectativas do mercado e do próprio governo reconheceram que a meta do presidente não eleito, Michel Temer, de retomada rápida do crescimento da economia fracassou. Não existe nenhum vetor positivo para viabilizar a retomada do crescimento: o consumo das famílias, responsável por 60% do PIB brasileiro, está em forte declínio devido ao aumento do desemprego e ao arrocho salarial; o setor público pouco investe e os parcos recursos estão sendo congelados por 20 anos; o investimento privado também não está recuperando devido a falta de demanda e ao endividamento das empresas; o setor externo teve alguma recuperação, mas tem peso limitado no PIB brasileiro.

Publicamos a seguir, uma seleção de artigos e análises sobre a economia brasileira. As projeções para o crescimento do PIB desabaram e o governo não tem sequer um diagnóstico consistente do caráter da crise, insistindo unicamente no controle do déficit público; a capacidade ociosa muito grande das empresas retarda o crescimento; as receitas das empresas estão em queda e não acompanham sequer a inflação; sem crescimento da economia fica cada vez mais difícil o equilíbrio das contas públicas; e o único indicador positivo – a queda da inflação – se deve à crise, ou seja, a falta de demanda. Veja a seguir as análises.  

Governo e mercado financeiro reconhecem fracasso da política econômica. “O governo anunciou hoje (21 de novembro) redução da projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país) em 2017, de 1,6% para 1%. Para 2016, a projeção, que era queda de 3%, piorou, passando para uma contração de 3,5% da economia”.(...) “Pela manhã, o boletim Focus, pesquisa semanal que reúne projeções de diversas instituições financeiras para e economia, reduziu de 1,13% para 1% a previsão de alta do PIB em 2017. Para 2016, as instituições financeiras elevaram a estimativa de queda do PIB, de 3,37% para 3,4%”.(Brasil 247, 21/11/2016). 

Folha prevê cenário sombrio na economia. “Marca do início da gestão de Michel Temer (PMDB), a esperança na recuperação da economia vai dando lugar a prognósticos mais sombrios. A melhora dos índices de confiança a partir do segundo trimestre não foi suficiente até agora para suplantar obstáculos concretos para a volta do crescimento”.(...) “A julgar pelos indicadores do Banco Central, a economia teve nova retração no terceiro trimestre, próxima a 1%. Na melhor das hipóteses, espera-se estabilização até o final do ano”.(...) “O governo já indica que reduzirá sua projeção para o crescimento do PIB em 2017, hoje em 1,6%, para cerca de 1%. Cresce entre analistas do setor privado o temor de resultados ainda piores”.(...) “Não há vetores fortes o suficiente para uma virada rápida. O investimento privado ainda patina, em razão dos estoques excessivos e da falta de demanda”.(...) “No caso da infraestrutura, cuja melhora poderia propiciar ganhos generalizados de produtividade e custos, apenas teve início o que promete ser uma longa reconstrução do ambiente de negócios”.(...) “Os principais operadores desse setor no país, afinal, eram os consórcios capitaneados pelas grandes construtoras envolvidas na Lava Jato, além de fundos de pensão de estatais. Levará um bom tempo até que novos participantes e novas práticas se consolidem”.(...) “Subsistem, além disso, dificuldades para concessão de crédito, não apenas por restrição dos bancos comerciais mas também em decorrência de falta de demanda empresarial e do endividamento de consumidores”.(...) “A crise econômica e a resistência da inflação dificultam o ajuste das contas públicas. A situação falimentar dos Estados é mais um sinal de alerta, que pode favorecer o acirramento de protestos”.(...) “Os riscos para o governo federal são evidentes, uma vez que opera num ambiente de baixa popularidade. Paira sobre ele a ameaça de rápida erosão de seu capital político, nos próximos meses” (Folha, Editorial, 21/11/2016).

Diagnóstico da economia não considerou a gravidade da crise do setor privado. Paulo Leme, do Banco Goldman Sachs, afirma: “A inflação está em queda e com a expectativa ancorada. O ajuste externo continua. Mas falar de recuperação da atividade é outra questão. O fato é que foram feitas avaliações exageradamente otimistas de crescimento e elas estão se frustrando, mas é porque o diagnóstico estava errado desde o princípio. As projeções de crescimento estão sendo reduzidas porque estão entendendo que a economia real, a parte relativa ao setor privado e às empresas, estava numa condição mais difícil do que se imaginava. A outra questão é que há muito mais um choque exógeno do que endógeno, por assim dizer. O efeito Trump, por exemplo (eleição de Donald Trump à presidência dos EUA e sua s consequências para os emergentes)”.(...) “O resumo é que cada crise tem sua impressão digital peculiar. As crises não são as mesmas. Na história do Brasil, nos acostumamos a três tipos de crise: de balanço de pagamento, forte desvalorização cambial e fiscal. Às vezes, tinha uma aventura bancária no meio. Essa tem componentes mais complexos. É uma crise de solvência fiscal profunda, sem crise de balanço de pagamentos, mas com uma profunda crise entre as empresas, agravada pela Operação Lava Jato. Então, se você tenta copiar a solução adotada em crises anteriores, provavelmente, não vai dar certo ou não dar certo na velocidade que você quer”.(...) “O diagnóstico de consenso, na minha opinião, estava errado. Ignoraram o motor fundamental: o investimento do setor privado. O quadro atual não permite a recuperação do consumo privado. As famílias têm de se ajustar, porque estão muito endividadas, o salário real está caindo e o desemprego, aumentando. Espero que o governo esteja se ajustando, então, não é com despesa do governo que o crescimento virá. As exportações já tiveram um ajuste importante, crescimento de 6% em volume, e as importações continuam caindo em termos de volume. Mas o setor externo tem participação pequena como porcentagem do PIB. Para sairmos de um PIB de -3,5% para um de 0,5% ou 1%, precisamos de taxas de investimento privado com alta de 15% a 20%. Mas as condições financeiras das empresas estão em outro ciclo”.(...) “O ciclo tardio de um excesso de alavancagem. As empresas - e a aí se incluem empresas do setor privado, estatais e mistas - estão sobre-endividadas. A dívida corporativa brasileira chega a R$ 3,6 trilhões - 22% maior que toda a dívida doméstica e externa do Tesouro Nacional”.(...) “É preciso evitar a deterioração do que já está ruim. Estou falando do complexo óleo e gás, do setor de energia, da parte que está envolvida na Lava Jato. Isso é muito importante. Quando a gente olha, na economia brasileira, 50 anos de formação bruta de capital fixo (indicador que mede a capacidade produtiva), vê que metade vem de empreiteiras, vem do setor da construção. É preciso uma coordenação entre a área econômica e a jurídica do governo para resolver o problema dessas empresas”. (Estadão, 20/11/2016). 

Capacidade ociosa retarda investimento. “Com as fábricas operando com alto nível de ociosidade, o investimento produtivo na indústria vem se retraindo. Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, este ano, o investimento caiu pela metade em relação a 2015 – os empresários informaram que iriam investir R$ 48,4 bilhões na produção, um dos menores resultados já revelados pelo levantamento feito anualmente pela Fiesp. Em 2015 foram aplicados R$ 97,5 bilhões. Ou seja, entre 2015 e 2016, a queda é de 50,3%”.(...) “A coordenadora da Sondagem Industrial do Instituto Brasileiro de Ibre/FGV, Tabi Thuler Santos, ressalta que, pelo tamanho da ociosidade, provavelmente tão cedo o investimento produtivo e o emprego não devem mesmo ser retomados na indústria, enquanto os estoques não forem reduzidos e a capacidade ociosa atual não for ocupada”.

Receitas das empresas cai e mostra crise persistente. “A previsão de que os balanços das empresas começariam a refletir em breve a possível retomada da economia não passou disso: uma expectativa. De julho a setembro, pela primeira vez em mais de quatro anos, a receita líquida de 278 empresas de capital aberto apresentou queda nominal de 3% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 335,3 bilhões, diante da combinação de fatores venenosos para os negócios: desemprego, juros e inflação altos e riscos no cenário externo. Se acrescentada a inflação, a queda real da receita passaria de 10%”.(...) “Os números desconsideram Eletrobras e Petrobras que, com baixas contábeis gigantescas no trimestre, distorcem os dados. Mesmo com as duas estatais, porém, a queda na receita permanece - de 5%, também em base anual. O levantamento é do Valor Data, considerando uma base de dados comparáveis desde o primeiro trimestre de 2012”.(...) "Não esperamos mais atingir a meta de estabilidade na receita líquida no Brasil neste ano", afirmou a fabricante de bebidas Ambev, que passou a projetar queda nessa linha. "No curto prazo, a confiança do consumidor está melhorando e a inflação, desacelerando, porém é esperado que o ambiente de consumo no Brasil permaneça difícil no quarto trimestre”. (Valor Econômico, 21/11/2016). 

Sem crescimento econômico é cada vez mais difícil o ajuste das contas públicas. “A troca de governo em maio deu um impulso nos índices de confiança, mas não foi suficiente para que a economia começasse a sair da recessão. As expectativas de uma recuperação da atividade ainda este ano murcharam e a área econômica já admitiu que o crescimento prognosticado para a economia, de 1,6% em 2017, não vai se concretizar. Será menor. Inferior aos 1,2% de crescimento originalmente projetado pelo governo. Pode mesmo ficar abaixo de 1%, configurando-se mais um ano muito difícil. É uma ré e tanto”.(...) “O fato é que as coisas não estão saindo como programadas pela área econômica originalmente. Sem crescimento da economia, a receita tributária que mingua na União, nos Estados e nos municípios, não crescerá, dificultando sobremaneira o ajuste das contas públicas”. (Claudia Safatle, Valor Econômico, 18/11/2016). 

Único indicador positivo – queda da inflação – é fruto da crise. “Mais uma vez saiu o boletim Focus, apurado semana passada. Mais uma vez, houve piora das expectativas de crescimento do PIB para este e o próximo ano. Trata-se da sétima semana seguida de deterioração dos prognósticos”.(...) “Resumo das expectativas: recessão neste ano, crescimento pífio no próximo, câmbio continuadamente sobrevalorizado e cortes lentíssimos na taxa de juros. Mas o boletim trouxe ao menos um dado positivo. O mercado aposta num IPCA de 6,80% para o final deste ano e de 4,93% no próximo, bem próximo ao centro da meta., que é de 4,5%. E porque a inflação estaria convergindo para o centro da meta? Porque não existe pressão de demanda. Ou seja, o único dado positivo da pesquisa também é fruto da crise”. (José Antônio Bicalho, Hoje em Dia, 22/11/2016).