Alberto Carlos Almeida: "O impeachment de Bolsonaro, se acontecer, será no ano que vem”
A proximidade com o Centrão e as eleições municipais deste ano são fatores que dificultam a abertura de processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. É o que indica o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos livros 'O Voto do Brasileiro e A Cabeça do Brasileiro'.
Carta Capital, 02/07/2020
Em entrevista a CartaCapital, Almeida aponta que as condições para o afastamento de Bolsonaro, hoje, são desfavoráveis.
“Neste ano é muito improvável e no ano da próxima eleição presidencial, em 2022, também é. O ano para acontecer o impeachment é 2021. Se tiver que acontecer será no ano que vem”, diz.
Almeida argumenta que, para a viabilizar um processo de impeachment, a popularidade do presidente precisa encostar nos 10%. De acordo com a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro é aprovado por 32% da população. A rejeição ao governo é de 44% e os que o avaliam como regular são 23%.
Levantamentos do mesmo instituto mostram uma alteração na composição da base de apoio do presidente. Em 2019, os mais pobres correspondiam a 32% do grupo que considerava o governo ótimo ou bom. Desde a pandemia e o início de pagamento do auxílio emergencial, o segmento de baixa renda passou a representar 52% de seus apoiadores.
Para Almeida, Bolsonaro percebeu a mudança e “descobriu um caminho”.
“Bolsonaro perdeu apoio de quem deveria ser a base social em função da pandemia e ganhou apoio desse eleitorado que não é a sua base principal. Só que esse apoio depende de gastos”, analisa.
E completa: “Os R$ 600 por mês do auxílio emergencial representam um gasto de R$ 50 bilhões por mês. O Bolsa Família inteiro dá R$ 30 bilhões por ano. Então, essa ajuda dos R$ 600 é insustentável. O que ele pode fazer é turbinar o Bolsa Família”.
O governo, nas últimas semanas, passou a acenar para a criação de um programa chamado Renda Brasil. O objetivo é unificar o Bolsa Família com programas sociais já existentes e ampliar a base de apoio ao presidente.
Na conversa, Almeida descarta que a situação de Bolsonaro seja comparável com o que ocorreu com o ex-presidente Lula, após as denúncias do Mensalão em 2005.
“É diferente. Essa sempre foi uma preocupação do Lula assim que foi eleito. Ele, entre a eleição e a posse, lançou aquele programa Fome Zero, depois mudou e veio o Bolsa Família. Sempre foi uma prioridade do discurso de esquerda defender os mais pobres, os menos favorecidos e fazer política social. A motivação principal da representação política da esquerda é atender os mais fracos, os mais pobres. Não é essa a da direita e Bolsonaro é da extrema direita”, afirma.
Para Almeida, no entanto, a potencialização do Bolsa Família pode tirar votos do PT em favor de Bolsonaro. “Eu acho que o novo programa tiraria, sim, alguns eleitores do PT. O percentual é impossível dizer”.
Eleições 2022
O cientista político aposta em um segundo turno entre um candidato de direita e um de esquerda em 2022. Para Almeida, caso Bolsonaro consiga se manter no cargo até lá, ele deve disputar novamente o segundo turno com um candidato do PT.
“Se o Bolsonaro chegar até o final do mandato ele será o pião do jogo na direita e o PT será o pião na esquerda. O pião é o que todo mundo fica em volta. Vão ser duas semifinais: a semifinal da direita e da esquerda. Nessas duas batalhas, Bolsonaro é o favorito na semifinal da direita e o candidato do PT é o favorito na semifinal da esquerda”, explica.
Isso se deve porque Bolsonaro conquistou votos que, em em eleições passadas, foram do PSDB. Para Almeida, a tendência é que o presidente mantenha esse apoio.
“O eleitorado do PSDB em 2018 foi transplantado para o Bolsonaro e ele tende a manter esse eleitorado”, avalia.
Na opinião de Almeida, dois nomes saem na frente na disputa pela vaga de candidato a presidente pelo PT.
“O PT tem dois nomes que eu olharia mais: Fernando Haddad e o governador da Bahia, Rui Costa. A Bahia é o quarto maior eleitorado do país. Se o Rui Costa tiver uma votação muito forte no estado já no 1º turno, isso tem um impacto nacional formidável. Se ele tiver 75%, 80% na Bahia e tivesse zero em todas as demais regiões do país, o que é impossível, ainda assim teria 5% dos votos nacionais. É muita coisa. A vantagem do Haddad é ele já ter disputado uma eleição presidencial e a vantagem do Rui Costa é ele estar governando o quarto maior eleitorado do país”, declarou.
Almeida, além de apostar que Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB, saia candidato ao Senado, diz não acreditar que Luciano Huck entre na disputa pelo Planalto.
“Eu não sei se ele aguenta uma campanha eleitoral. O que o Luciano Huck tem para oferecer ao eleitorado? O PT levou alguma coisa. O Bolsonaro está levando alguma coisa. O que o Huck levou de benefícios concretos para melhorar a vida das pessoas? Nada. Com o passar do tempo, pode cair a menção a ele porque não tem consistência política”, conclui.