Brasil tem US$ 371 bilhões (R$ 1,473 trilhão) de reservas em dólares. País enfrenta dificuldades, mas não está quebrado

26/11/2015 | Brasil 1994/2014

É inegável que o Brasil, no governo Dilma Rousseff, enfrenta enormes dificuldades na economia, como o desequilíbrio fiscal, inflação muito pressionada, recessão e aumento do desemprego. Mas o Brasil, ao contrário do que diz a oposição e a grande mídia, não está quebrado nem vai quebrar.

A principal âncora da economia brasileira é as reservas em dólares, que, segundo os últimos dados divulgados para o final de setembro, eram de aproximadamente US$ 371 bilhões, o que equivalia, em reais, no câmbio daquele mês, a R$ 1,473 trilhão. A economia brasileira passa por enormes dificuldades, mas um país que tem reservas desta magnitude não corre o risco de quebrar, como aconteceu inúmeras vezes no passado, com o governo tendo que recorrer ao FMI, que passava a ditar, de fora, os rumos da política econômica. 

Um país, quando tem uma crise cambial, vive uma situação caótica em sua economia. Faltam dólares para que o país pague as suas importações; as indústrias, que dependem de componentes importados param, por falta de peças e matérias primas; as pessoas suspendem as suas viagens ao exterior; e o país entra em moratória por não conseguir honrar os seus compromissos externos. Por isso mesmo, quase sempre, os governos nacionais aceitam a tutela de organismos internacionais – como é o exemplo mais recente da Grécia – para evitarem o caos econômico. 

Veja na tabela a seguir o nível de reservas em dólar do Brasil nos últimos 21 anos, de 1994 a 2015.

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Com FHC, o Brasil enfrentou três crises cambiais e recorreu ao FMI

O governo FHC, mesmo com todas as gentilezas oferecidas aos grandes capitalistas internacionais – taxa de juros de até 45% ao ano, privatizações selvagens com venda de empresas a preço de banana, dolarização de grande parte da dívida interna, dentre outras barbaridades - nunca conseguiu acumular reservas expressivas em dólares. Elas eram de apenas US$ 37,823 bilhões no final de 2002. Seu valor líquido era ainda menor, de US$ 17 bilhões, sem os empréstimos do FMI. Foi por não possuir uma posição robusta nas reservas em dólares que o Brasil enfrentou três crises cambiais com FHC, em 1997/1998, na crise asiática e russa; em 2001, na crise da Argentina; e em 2002, quando o terrorismo tucano/pefelista destroçou a credibilidade do Brasil. Foram crises de pequena intensidade e que não serão mais que notas de pé de página na história econômica, tendo o Brasil recorrido ao FMI e aceito suas políticas recessivas e privatistas. Foram nestes três anos, que as monumentais taxas de juros fizeram explodir a dívida pública brasileira.  

Nos governos Lula e Dilma, para blindar a nossa economia contra as crises externas de grande magnitude, o Brasil conseguiu acumular reservas em dólares como nunca antes nesse país. No final do governo Lula, em 2010, as reservas internacionais em dólares eram de US$ 288,575 bilhões, e, no governo Dilma,  em setembro de 2015, elas atingiram a marca de US$ 371,000 bilhões. Com isso, crises de grande magnitude como a de 2008/2009 e outra que atingiu os países emergentes mais recentemente, em 2013, em função da redução dos estímulos monetários dos Estados Unidos, encontraram uma economia mais robusta aos abalos na economia internacional. Com isso, Lula e Dilma não tiveram que recorrer ao FMI e a organismos financeiros internacionais, como aconteceu inúmeras vezes no passado. 

Reservas do Brasil valorizaram R$ 552 bilhões em 1 ano 

Todos os economistas de esquerda reconhecem a importância estratégica para o Brasil das reservas cambiais de US$ 371 bilhões, que deixam o nosso país menos vulnerável aos abalos na economia internacional. Até mesmo um importante economista tucano, José Roberto Afonso, reconhece isto, ao afirmar que, quando o dólar dispara, quem tem robustas reservas em dólar tem reflexos positivos no endividamento em reais. Disse José Roberto Afonso: “O que dá para chorar, dá para rir. A disparada do dólar provoca inflação. Só que o governo federal hoje tem mais reservas em caixa do que dívidas em dólar. Logo, quanto o dólar dispara, a dívida pública cai”. (...) “Ao menos para as contas públicas, o dólar virou uma bênção, por ironia ou por paradoxo”. (O Globo, 22/06/2013).

Foi exatamente isso que aconteceu nos últimos 12 meses encerrados em setembro, segundo as estatísticas divulgadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Pelos dados divulgados, o Brasil tinha, em setembro de 2014, US$ 375,713 bilhões de reservas em dólares, o que multiplicado pelo câmbio daquele mês equivalia a R$ 920,872 bilhões. Já em setembro de 2015, as reservas recuaram levemente para US$ 371 bilhões, o que equivalia naquele mês a R$ 1,473 trilhão. Ou seja, como o dólar disparou nos últimos meses, as reservas em dólares tiveram uma enorme ampliação em reais de R$ 552 bilhões. Este valor cobriu com pequena sobra os bilionários juros e variação dos títulos cambiais no período – de R$ 510,557 bilhões. Com isso, a dívida total líquida do setor público (dívida bruta menos os ativos do governo com reservas em dólares e BNDES, principalmente) caiu de 33,5% para 33,2% do PIB. 

Se o Brasil não está quebrado por que tamanha recessão? 

O espantoso na atual situação econômica do Brasil, é que a crise não é nem de longe a mais grave da história brasileira. Temos mais de US$ 370 bilhões de dólares de reservas em dólares; a dívida pública de 33% do PIB (dívida líquida) e de 59% do PIB (dívida bruta) é muito inferior a de outras crises; temos um mercado interno de massas consolidado, etc. Mas estamos vivenciando uma das maiores recessões econômicas de toda a história brasileira. Temos maior autonomia para planejar a nossa política econômica, mas por incrível que pareça nosso país vive uma recessão muito superior àquelas impostas pelo FMI no passado. 

O blogueiro Luís Nassif, um oponente da política econômica da presidenta Dilma Rousseff, coordenada por Joaquim Levy / Alexandre Tombini, disse certa vez que a equipe econômica do governo, além de conservadora, era uma orquestra formada por “solistas”, faltava um “maestro” para coordenar e dar-lhe o mínimo de articulação. Segundo Nassif, cada área trabalhava pela “sua recessão econômica” e os resultados finais foi uma recessão muito maior do que se esperava. Se projetava uma recessão inferior a 1% e o percentual deverá ultrapassar 3%, e, dependendo dos resultados em 2016, poderemos caminhar para uma das maiores, senão a maior, recessão econômica da história brasileira. 

Temos uma combinação de eventos negativos impressionante. O Banco Central, depois de trazer os juros para a mínima histórica de 7,25%, para reconquistar a confiança dos bancos deu uma overdose de juros – 14,25% ao ano - bem maior do que aquela que cobrava o próprio mercado financeiro. A equipe da Fazenda adotou um ajuste fiscal que, combinado com os juros elevados, jogou a economia numa enorme recessão e esterilizou o próprio ajuste fiscal, já que o corte de despesas foi superado em muito pelas perdas de receitas. Chegou ao fim o superciclo de commodities, que beneficiou muito o Brasil, está acontecendo uma forte desaceleração da economia chinesa, o que faz com que o setor externo não tenha força suficiente para liderar a recuperação da economia. Vivemos uma severa crise hídrica, que levou a tarifaços de energia e de água, o que pressionou muito a inflação e foi mais um empecilho para a retomada do crescimento. O governo não conseguiu garantir o mínimo de normalidade do setor de petróleo (Petrobrás) e de infraestrutura (grandes construtoras), empresas afetadas duramente pela Operação Lava Jato e que tem um papel decisivo na economia brasileira. E tivemos, principalmente, a crise política, fruto da aliança Aécio / Eduardo Cunha, que paralisou o país durante um ano.

A crise política não vai reduzir a sua intensidade se a presidenta Dilma Rousseff não melhorar e muito o desempenho da economia. A situação política está mais favorável ao governo. A crise política diminuiu, devido aos processos enfrentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha; e pela disparada da rejeição da oposição (Aécio, Marina, etc), fruto do repúdio popular à estratégia do “quanto pior, melhor”. Como disse Luís Nassif em artigo recente: “Mais uma vez a bola está com Dilma”. 

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