
Cadernos pela Democracia – 1. Wanderley Guilherme: “Temos uma resistência democrática inédita na história do Brasil”
O Mandato Marília Campos (PT/MG) inicia a publicação dos Cadernos Pela Democracia, com uma síntese dos artigos do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Dividimos o Caderno em 15 itens, sem sequência cronológica, priorizando as questões mais atuais e todos os textos são anteriores ao afastamento de Dilma, não refletem, portanto, as novas análises do cientista político. Em alguns itens citamos outros autores e fizemos comentários para enriquecer as reflexões políticas. Fica claro ao longo dos textos, que Wanderley Guilherme faz inflexões em suas análises ao longo dos últimos meses e assume claramente a posição de militância política contra o golpe político-parlamentar contra Dilma Rousseff.
Uma resistência democrática inédita no Brasil
Wanderley Guilherme dos Santos faz uma constatação dramática: “Ainda não coube à minha geração interromper o padrão que, desde Deodoro da Fonseca e seu espirro ditatorial, impediu que sequer uma geração republicana se livrasse das intervenções autoritárias, civil ou militar”.
De positivo, no entanto, o cientista político afirma que temos uma resistência democrática às intervenções autoritárias inédita no Brasil. Comparando 2016 com 1964, Wanderley Guilherme afirma: “Agora, a situação do Brasil é muito diferente. Como está se vendo, você não é capaz de dar um golpe apenas numa situação política-jurídica. O golpe tem que ser social. E esse é mais difícil, mesmo quando se tem sucesso (e vai ter). Isto, do ponto de vista social, vai continuar sendo contestado; e do ponto de vista político, mas dentro do jogo democrático, só vai se resolver em 2018. Porque agora é uma solução de força de maioria, obviamente violenta, constitucionalmente violenta, com parte considerável de uma aparência de legalidade. Até 2018, não sabemos o que vai se passar, porque socialmente o golpe não foi dado e vai ser contestado. O que está acontecendo é que uma enorme extensão da sociedade não está reconhecendo a legitimidade, a legalidade desse processo político”. Em um de seus artigos, Wanderley Guilherme escreveu: “O impedimento venceu; o golpe foi derrotado”.
Os golpistas estão subestimando o que vem pela frente
Wanderley Guilherme afirma: “Se nós observarmos bem, na minha opinião, existe hoje no país um estado de sublevação pela legalidade. Em vários estados do país tem um movimento espontâneo de passeatas”.(...) “Um denominador comum entre todos os participantes desses eventos é a defesa da legalidade. Não à toa que é a legalidade, porque dela já estamos saindo”.(...) “Então, a situação é nova no Brasil, com alguma repercussão ou similaridade com outros no exterior, mas não quero fazer comparações. No Brasil, isso é absolutamente inédito, por consequência, você não tem modelos anteriores pra imaginar mais ou menos como vão ser as coisas ou como vai se tomar forma disso. Está se tomando forma na medida em que o processo se desenvolve. Eu tenho impressão que as forças políticas que estão dando continuidade a esse golpe não fazem ideia do que estão iniciando e que não terão condições de administrar, exceto por uma taxa elevada de coação. E não há democracia que aguente uma taxa de coação sem limite”. (...) “Se o que se esboça nas ruas, estradas, universidades e prédios públicos, se transformar de fato em sublevação civil pela legalidade democrática, desta vez o usufruto da usurpação de poder não terá gosto tão doce quanto o de um pirulito infantil dos golpes anteriores”.
Veja aqui, em PDF, a íntegra do número 1 dos Cadernos Pela Democracia.