Carlos Lindenberg: “A candidatura de Dilma ao Senado anima mais ainda a disputa em Minas”
Brasil 247 – 09/04/2018
A menos que o senador Aécio Neves atenda aos pedidos de seu colega Antônio Anastasia, não entrando na chapa majoritária que concorrerá ao governo do Estado, na condição de candidato à reeleição ao Senado, e o país poderá assistir em outubro, os mineiros de maneira privilegiada, à reedição do embate Dilma Rousseff versus Aécio Neves, como ocorreu em 2014, com vitória de Dilma, numa eleição em que o derrotado não a reconheceu, a despeito de haver cumprimentado a vitoriosa na noite daquele domingo que depois se revelou fatídico.
Com efeito, estimulada pelo ex-presidente Lula, que cercado por populares no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, dava ao país uma demonstração jamais vista de força política e de senhor absoluto das suas últimas horas de liberdade, na histórica tarde de sexta-feira dia seis de março, a ex-presidente Dilma Rousseff surpreendeu o mundo político mineiro e transferiu seu título eleitoral para Belo Horizonte se colocando em condições de ser votada nas eleições de sete de outubro deste ano para o Senado, onde estão o autor do golpe que a derrubou em 2015, Aécio Neves, e o relator do processo que a tirou do poder, o senador Antônio Anastasia. A diferença agora é que, candidata, Dilma poderá, a depender do correr dos dias, não ter que disputar contra seu algoz, Aécio Neves, porque para ser candidato do PSDB ao governo de Minas e assim evitar uma diáspora em seu partido, o senador Anastasia teria imposto entre outras condições que ele e mais ninguém montaria a chapa majoritária ao governo mineiro, estando nisso um recado claro de que ele não quer seu antigo patrono Aécio Neves na chapa com que tentará voltar ao governo do Estado.
A decisão de Dilma, na verdade, não surpreendeu apenas os mineiros, que já vinham observando de longe os sinais da ex-presidente nesse sentido. Surpreendeu o País. Afinal, mineira de nascimento, Dilma fez sua carreira política no Rio Grande do Sul, onde foi secretária de Estado de Minas e Energia e de onde foi alçada à mesma posição no governo do presidente Lula. Ademais, naquela sexta-feira, último dia do prazo para a mudança do domicílio eleitoral, o país assistia ao vivo e em cores o ex-presidente Lula enfrentar sem demonstrar resistência física, mas apenas politica, a ordem de prisão do seu mais recente carcereiro, o juiz Sérgio Moro, estrela e inspirador da ditadura da toga que passou a dominar a justiça do País sob a capciosa doutrina de que é preciso moralizar o país – nem que seja prendendo e violando direitos de apenas um dos lados do espectro político brasileiro.
Pois Dilma só não será candidata mesmo ao Senado em outubro se o destino lhe preparar alguma surpresa. O pretexto, para não revelar desde já a estratégia aos adversários, é dizer desde logo que ele virá cuidar da sua mãe, de 84 anos. A história, contudo, é outra. Dilma vai compor a chapa com o governador Fernando Pimentel que concorrerá à reeleição, entrando para disputar o Senado muito provavelmente ao lado da deputada do PC do B, Jô Morais, cabendo ao deputado estadual emedebista e presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Adalclever Lopes, a condição de vice na dobradinha com Pimentel – ou ainda, numa tentativa de impor a vitória da chapa no primeiro turno, indo Adalclever compor com Dilma para o Senado, arrastando assim o peso do MDB para o embate.
A dúvida é se Aécio se submeterá aos critérios impostos por Anastasia para tentar voltar ao governo de Minas, numa disputa que ele sabe ser das mais difíceis, até porque terá que explicar aos mineiros como a gestão tucana deixou o Estado em situação financeira tão aflitiva. Aécio, como se sabe, foi quem “inventou” Anastasia, fazendo dele seu secretario de múltiplas funções e depois seu vice-governador. Por isso mesmo o que se imagina em Minas é que Anastasia, no final das contas, não terá como não colocar Aécio na sua chapa, mesmo sofrendo o risco do ser “contaminado” pela radiatividade de que o senador mineiro é portador desde que foi flagrado recebendo uma propina de dois milhões de reais do empresário Joesley Batista e o país inteiro ver um de seus primos correndo com uma mochila de dinheiro nas costas, no maior vexame jamais patrocinado por um politico mineiro.
O problema é que Aécio poderá não digerir a ideia de sua cria Antônio Anastasia e forçar entrar na chapa na condição de candidato à reeleição ao Senado. Para evitar disputa entre dois aliados, mais do que isso, entre criador e criatura, há em Minas entre os tucanos a possibilidade de Aécio ser convencido a disputar uma cadeira na Câmara dos deputados, para não ficar inteiramente sem foro privilegiado – ou até mesmo de ficar sem disputar qualquer mandato, na expectativa de que a Lava Jato cumpra o que vem fazendo até aqui, ou seja, punindo quase que exclusivamente os adversários do PSDB, ainda que para tanto faça o que vem fazendo, como por exemplo, o que fez com o ex-presidente Lula, condenado sem provas e numa celeridade jamais vista na justiça brasileira.
Mas se nada disso ocorrer e Aécio cismar mesmo de tentar voltar ao Senado, ai teremos em termos regionais a reedição da disputa entre Dilma e Aécio, numa disputa em que só haverá um vencedor, como foi em 2014, em que a então presidente derrotou o senador mineiro que, no entanto, não admitiu a derrota e “botou fogo no paieiro”, para usar uma expressão muito apreciada por outro tucano de bico vermelho, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Até aqui, pesquisas internas e apenas para uso e orientação do governo mineiro, indicam uma vantagem considerável da ex-presidente sobre seus possíveis adversários, entre os quais o senador Aécio Neves, que, no entanto, desponta atrás de Dilma, mas ainda numa etapa em que as possíveis candidaturas sequer são inteiramente conhecidas. De qualquer forma, os dados indicam sinal amarelo para Dilma, que tem sido estimulada pelo governador Fernando Pimentel, que na verdade sonha com uma tripla vitória sobre os tucanos em Minas: a sua reeleição e a eleição de Dilma e do deputado Adalclever Lopes (MDB) para o Senado no que os mineiros chamam de vitória de barba, cabelo e bigode.
Carlos Lindenberg é jornalista, diretor do 247 em Minas.