
Censo Escolar: Um em cada três alunos do ensino médio estuda à noite
Percentual de matrículas tem caído, mas número ainda é elevado. A falta de vagas durante o dia levam muitos a alunos que não trabalham a se matricularem no noturno.
O Brasil contabiliza hoje 8,3 milhões de matrículas no Ensino Médio. Desses, cerca de 2,3 milhões de alunos cursam o ensino noturno na rede pública, número que representa um terço do total (33%), segundo dados do Censo Escolar de 2013 tabulados pelo Instituto Unibanco e divulgados pelo jornal Folha de São Paulo no último dia 12. Esse número é considerado elevado e preocupante.
A oferta de vagas no turno da noite atende quem precisa trabalhar ou que, por alguma outra razão, não pode frequentar as aulas no período diurno. “São alunos mais vulneráveis, com maior chance de abandono, que precisam de atenção especial”, como lembra o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques.
De acordo com o levantamento, disponível no site do Instituto Unibanco, os dados referentes ao perfil desse aluno indicam que “há uma forte relação entre frequentar o período noturno e menor nível socioeconômico. São mais recorrentes nesse turno estudantes cujas mães nunca estudaram ou que sequer completaram os anos iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, são alunos mais velhos: metade dos matriculados nesse período tem entre 18 e 21 anos, enquanto que no diurno a maioria (56,4%) tem menos de 17 anos. O alto índice de defasagem idade-série (53%) também explica em parte a elevada média de idade desses estudantes”.
Apesar de importante para garantir para a esses estudantes um ensino de qualidade, o ensino noturno tem reproduzido desigualdades sociais. Os especialistas dos Instituto Unibanco citam, como exemplo, os indicadores de desempenho. Comparados ao período diurno, os alunos do 3º ano do noturno tiveram médias piores em português (26 pontos menor) e em matemática (22 pontos menor) no Sistema de avaliação federal (Saeb) de 2013. Mesmo nas unidades que oferecem os dois turnos, a diferença se mantém: é de 24,1 pontos em Língua Portuguesa e 19,2 pontos em Matemática. Para se ter uma ideia da magnitude dessas disparidades, a nota média em português obtida pelos alunos do 3º ano noturno é inferior à alcançada pelos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental.
Além do perfil dos alunos, esse desnível se deve às condições de estudo oferecidas à noite. Entre outros problemas, a carga de aulas é menor; há uma alta rotatividade de docentes e um elevado índice de professores com formação inadequada para disciplina lecionada; espaços fundamentais, como bibliotecas e laboratórios, são fechados à noite, não há o serviço de apoio pedagógico (secretarias e direção), e nem a limpeza costuma ser feita.
Fatores como esses têm levado a uma expressiva queda no volume total de matrículas no turno da noite. Foram menos um milhão de matrículas entre 2007 e 2013. O percentual de jovens do noturno que já abandonaram a escola pelo menos uma vez (14,5%) é três vezes maior do que no diurno (5%). A pesquisa revela que 32% dos estudantes do noturno se matriculariam em outra escola, se tivessem essa alternativa. A que frequentam é a única do bairro ou a mais próxima. No caso do ensino médio diurno, a principal razão para a matrícula é a reputação da escola.
Finalmente, o estudo registra que 40% dos estudantes que estão à noite não trabalham. O motivo para isso é a “falta de infraestrutura das redes para atender durante o período diurno à demanda de vagas no Ensino Médio”.