Deputado Lúcio Vieira Lima – PMDB/BA é o novo Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados

08/12/2015 | Política

Quem acha que o afastamento de Eduardo Cunha melhorará a Câmara dos Deputados está enganado. O novo Eduardo Cunha e candidato a futuro presidente da Câmara dos Deputados é o deputado Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula. Como pode ser visto na entrevista a seguir, Lúcio Vieira Lima é de uma semelhança impressionante com Eduardo Cunha: foi um dos articuladores da Comissão do golpe do impeachment; é um desorganizador da vida partidária e da rebelião contra as lideranças dos partidos para consolidar “um parlamento independente”; é provocador e ressentido. Ou seja, é o novo “homem-bomba” na Câmara dos Deputados.

Veja a entrevista de Lúcio Vieira Lima, no blog de Josias de Souza:   

Grupo anti-Dilma deve obter comando da comissão, prevê idealizador da chapa 

Josias de Souza 08/12/2015 20:01

Chama-se Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) o articulador da fórmula que misturou governistas dissidentes e oposicionistas numa chapa com membros da comissão do impeachment. Depois da derrota do governo por 272 votos a 199, Lúcio prevê que o grupo anti-Dilma deve controlar o comando da comissão. “Nós elegemos a maioria, metade mais um, da comissão. A tendência é de que tenhamos a presidência e a relatoria da comissão”, disse Lúcio ao blog. Abaixo, a entrevista:

— Por que a chapa alternativa teve tanta adesão? Senti que havia um clima de rebelião nas bancadas, porque os líderes procuraram o Palácio do Planalto para apresentar os nomes e ver se havia concordândia do governo. A bancada do PMDB se rebelou. E foi contaminando outras bancadas.

— Há uma rebelião contra os líderes dos partidos governistas? Nós tivemos uma eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro, com o mote do Parlamento independente. Esse conceito de independência se espalhou. Ou seja, as bancadas também querem ser independentes. Os líderes terão que ser porta-vozes de suas bancadas. Eles não podem decidir por suas bancadas. Ninguém elege um líder para dar cheque em branco.

— No caso do PMDB, acha que o líder Leonardo Picciani deve ser trocado? O líder foi eleito para um mandato que se encerra em fevereiro. Logicamente, pode ser destituído antes. Isso foi uma sinalização. Picciani não pode conduzir um partido do tamanho do PMDB, plural como o PMDB, como se fosse o PMDB carioca. Ele tem que esquecer um pouco o PMDB do Rio e virar líder de todo o PMDB.

— Acha que o resultado sinaliza o afastamento da presidente? Não tenho dúvida. Diversos parlamentares aliados do governo diziam que essa votação seria importante porque eles venceriam e matariam hoje o impeachment. Agora, virão com o discurso de golpe.

— Não é golpe? Golpe vai dar a presidente Dilma se escapar. Ela dará um enorme golpe de sorte.

— Embora a vitória seja expressiva, os 272 votos estão distantes dos 342 necessários à aprovação do afastamento da presidente, não? Impeachment não é uma votação, é um processo. Uma vitória como essa, ainda na fase de instalação da comissão, não é pouca coisa. É preciso levar em conta que faltaram cerca e 40 deputados. A maioria votaria conosco.

— O resultado assegura ao grupo pró-impeachment a presidência e a relatoria da comissão? Nós elegemos a maioria, metade mais um, da comissão. A tendência é de que tenhamos a presidência e a relatoria da comissão. Mas ninguém vai para uma comissão de impeachment sem o espírito da conversa e do diálogo. Nessa comissão, não pode haver radicalismos. Não se trata de trabalhar a favor ou contra o impeachment. Todos têm a sua tendência, mas não pode ter o veredicto pronto. Afinal de contas, a presidente vai apresentar a defesa. E nós teremos que analisar. Defendo o impeachment porque acho que será bom para o Brasil. Mas não vou votar a favor se a acusação de crime de responsabilidade não ficar comprovada.

— Quando foi concluída a montagem dessa chapa vitoriosa? Concluímos 15 minutos antes do início do votação. Nessa madrugada, à uma e meia, eu ainda estava na porta do deputado Fracischini, do Partido Solidariedade, pegando a assinatura dele. Muitos deputados só chegam aqui na terça-feira. Perdemos deputados que queriam participar da chapa.

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— Que papel terá o PMDB, seu partido, no processo de impeachment? Tem um papel relevante. Numericamente, o PMDB tem muito peso. E tem outro fato que o torna relevante: é o partido do vice-presidente da República. Mas uma decisão dessas não deve ser liderada por partido político. É preciso que haja um amplo debate na Câmara. Todos os partidos terão de examinar os fatos e decidir com a consciência tranquila.

— A carta de Michel Temer para Dilma ajudou? Se você disser que essa carta foi determinante para o resultado da votação de hoje, digo que não foi. Mas não excluo a hipótese de ter influenciado um ou outro voto. Na hora em que o Michel, que é presidente do PMDB, manda uma carta para Dilma dizendo que ele e o partido não foram adequadamente prestigiados pela presidente, logicamente você tem a indignação dos partidos. Michel é presidente do PMDB há mais de 15 anos. Presidiu a Câmara três vezes. O desrespeito à figura do Michel acaba atraindo solidariedade.

— Não se constrange de participar de um processo de impeachment presidido pior Eduardo Cunha? Eduardo Cunha foi votado por toda a Casa e foi eleito no primeiro turno. Enquanto ele não for condenado, tem a legitimidade para tomar as providências. Tanto que está exercendo essa legitimidade. Não fui eu que coloquei ele lá nem depende de mim a saída dele. Depende do conjunto da Câmara tirá-lo mediante julgamento.

— Cunha não enfraquece o processo? De forma nenhuma. Mesmo que a presidente queira transformar o impeachment numa disputa Dilma X Cunha, sob o argumento de que ela não tem conta no exterior. Dilma não está sendo acusada de ter conta no exterior. A acusação é de cometer crime de responsabilidade ao gastar dinheiro do contribuinte sem autorização do Congresso.