
DIEESE: Reajustes salariais perdem para inflação no semestre
As altas taxas de desemprego e a inflação estão colocando os trabalhadores em desvantagem na hora de negociar seus reajustes salariais, segundo levantamento realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), divulgado neste início de setembro.
No primeiro semestre deste ano, das 304 negociações feitas no período, apenas 24% resultaram em ganhos reais para os assalariados. Em 37% delas houve apenas a reposição das perdas inflacionárias. As restantes (39%), resultaram em reajustes que chegaram a até 2% abaixo da inflação.
Em função deste quadro, a variação real média dos reajustes no primeiro semestre foi negativa: 0,5% abaixo da inflação. Além disso, houve um crescimento no número de reajustes parcelados e escalonados. Entre 2012 e 2015, cerca de 20% das 304 unidades de negociação pagavam reajustes de forma escalonada. Em 2016, esse percentual subiu para 34%.
Os resultados mostram que em 61% dos casos não houve perda nos salários, uma proporção considerada significativa, dado o momento desfavorável da economia. Ainda assim, trata-se do pior desempenho das negociações desde o primeiro semestre de 2003.
O coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, em comunicado à imprensa, afirma que desde o ano passado já se observam sinais da trajetória negativa, mas as dificuldades agora se aprofundam. No final do primeiro semestre de 2014, o índice de negociações que resultavam em reajustes menores que o INPC era de apenas 3%. Em 2015, este índice subiu para 15%. “De 2004 para cá, na média, não havia ocorrido perda, mesmo durante a crise de 2009. Isso começou a acontecer a partir do segundo semestre de 2015 e se aprofunda em 2016”, afirmou.
Depois de mais de uma década em que a imensa maioria das categorias acompanhadas pelo DIEESE conquistou ganhos reais, o futuro próximo torna-se incerto. Os indicadores comumente utilizados para explicar o desempenho das negociações salariais – inflação, desemprego e nível de atividade econômica – seguem desfavoráveis aos trabalhadores: a) a inflação ainda se sustenta em patamar relativamente elevado, apesar das quedas sucessivas da taxa acumulada em 12 meses; b) o desemprego elevou-se abruptamente desde o início de 2015; e c) a atividade econômica continua em queda, embora em ritmo menor.
Some-se a isso, as mudanças no quadro político e econômico nacional, com a ascensão do bloco golpista comandado por Temer e o redesenho das políticas econômicas numa direção recessiva.
Com tudo isso, 2016 tende a ser um dos piores anos para negociações de reajustes salariais.
Apesar disso, é importante lembrar alguns fatores que podem atenuar os efeitos da crise. Alguns indicadores parecem revelar que o momento pior na economia já passou, “o que não significa que se possa antecipar a retomada do crescimento econômico”, alerta José Silvestre. Em segundo lugar, no segundo semestre ocorrem datas-bases de categorias profissionais com grande capacidade de mobilização. É o caso dos petroleiros, metalúrgicos e bancários. O engajamento das bases sindicais e a habilidade de negociação de suas lideranças poderão fortalecer a posição dos trabalhadores.