Diretas Já: Paulo Henrique Amorim é contra; Tereza Cruvinel é a favor. Veja os dois artigos
Veja a seguir dois artigos – de Paulo Henrique Amorim e Tereza Cruvinel - que tratam de uma polêmica que já marca a conjuntura: as eleições diretas Já.
PT TEM QUE IR PARA A ELEIÇÃO. EM 2018!
Paulo Henrique Amorim
Conversa Afiada – 18/04/2016
A narrativa para 2018 é formidável: denunciar o Golpe e detonar a ponte do Temer.
O PT e os partidos que apoiam Dilma não podem fazer o jogo da Casa Grande – e tentar um Golpe extra-constitucional.
A derrota é inquestionável: 367 x 137.
O problema não é só o tamanho da derrota, o 7 a 1.
É a tentação – já prevista aqui, nesta Conversa Afiada: leia “Eleição já !” - de fazer um atalho e rasgar o que está na Lei.
O pior cenário é o mais plausível.
A Dilma deve perder na primeira avaliação do Senado, quando a decisão é por maioria simples.
Deixa a Presidência ao Temer por 180 dias.
Aí, ela perde de novo, dessa vez, uma decisão semi-final, quando o Senado votará por maioria de dois terços.
Se ela recorrer ao Supremo – com as lambuzadas lambanças de seu Advogado Geral da União – deverá perder de novo.
Portanto, a derrota da Câmara foi fatal.
O que fazer ?
Não tentar um Golpe – como esse bem-sucedido, do domingo 17 de abril de 2016.
Respeitar as regras do jogo.
E deixar o Temer governar com sua “Ponte para o Futuro”.
Botar o povo nas ruas.
E preparar as eleições de prefeito em 2016 e de Presidente, em 2018.
Sem a grana que elegeu essa Câmara de ignorantes e picaretas.
Quando as forças trabalhistas terão a seu dispor uma fabulosa plataforma: lembrar o Golpe e detonar a “Ponte para o Futuro”.
A narrativa trabalhista para 2018 é formidável.
Quando vencerá o Lula ou quem ele apoiar.
Preparar-se para 2018 tem a vantagem de acabar de emporcalhar a candidatura da Blablárina , de forma exemplar exposta no voto patético de seu “cérebro”, Miro Teixeira, um agente desencapado da Globo na Câmara.
O Golpe passou, provisoriamente.
Mas, para dar legitimidade à vitória em 2018 o Governo Dilma tem que se pautar pela Lei.
É uma forma de mostrar que nem tudo, aqui, é uma republiqueta latino-americana.
A Constituição é a melhor arma contra os canalhas brevemente vencedores.
E seguir o que o Supremo fixou, na relatoria do Ministro Barroso.
Fora disso será uma aventura – inútil.
A SAÍDA PELAS URNAS
Tereza Cruvinel
Brasil 247 – 18/04/2016
O discurso do Governo logo depois da derrota na Câmara – através dos ministros Jacques Wagner e Eduardo Cardoso – sustentou que o processo de impeachment em curso é um golpe e que a presidente vai resistir até o fim demonstrando sua falta de base jurídica. É verdade que no Senado o ambiente não será o de “pega, mata e esfola” verificado na Câmara, especialmente no tocante ao direito de defesa. Mas o que está posto é uma luta de poder e não um julgamento propriamente dito. Por isso, antes de mais uma batalha inglória, Dilma pode ser convencida a aceitar a “saída pelo povo”. Vale dizer, a renúncia a dois anos de mandato, com reforma política e eleições presidenciais em outubro, junto com o pleito municipal. O presidente do Senado, Renan Calheiros, é o candidato natural a articulador desta solução e ele tem considerado esta possibilidade.
No Senado, já existe um ambiente favorável. Nesta segunda-feira pela manha, um grupo de senadores independentes, vale dizer, nem do PT nem do PMDB, vai defender hoje a proposta “Nem Dilma nem Temer, diretas imediatamente”. Dele fazem parte os senadores Walter Pinheiro (sem partido, ex-PT), Cristóvam Buarque (PDT), Randolfe Rodrigues (Rede), João Capiberibe (PSB), Lidice da Mata (PSB), Paulo Paim (PT).
Se Renan aceitar o desafiante papel de articuladores do acordo nacional, terá que obter em primeiro lugar a anuência de Dilma. A proposta não pode partir dela, inclusive para não parecer que está fugindo do julgamento. Terá que ser uma iniciativa do Senado, costurada com diferentes partidos. O PT deve aceitar, até porque tem um bom candidato, Lula. A alternativa é enfrentar o processo no Senado, sem garantia de vitória, consumindo energias com recursos ao STF e defesas jurídicas que cairão sobre ouvidos moucos, como na Câmara. E no final, se perder, entregará o govrno de bandeja ao conspirador Temer. Com as diretas, ele e sua turma veriam o doce golpista cair da boca.
E o PSDB? Se fizerem as contas, os tucanos concluirão que nada têm a ganhar apoiando um governo Temer que carregará a marca do golpismo, que será contestado nas ruas e não terá autoridade para enfrentar e solucionar a crise. Com diretas, pode lançar um de seus candidatos.
Depois vem a constelação de partidos secundários, que não terão candidatos mas poderão, novamente, negociar apoios para ter lugar num futuro governo.
Esta é uma fórmula que, daqui para a frente, pode tomar corpo. Seu êxito dependerá do desprendimento de Dilma, que perde dois anos de mandato mas sai por cima, livrando da humilhante e injusta condenação. Dependerá de Renan, de Lula e muito do PSDB. Fora dela, teremos o prolongamento da crise até à conclusão do rito no Senado e, no final, uma solução que não será solução. Dilma, que obteve apenas 137 votos em sua defesa na Câmara, se absolvida teria enormes dificuldades para recompor a governabilidade. E Temer, por tudo que já foi dito, não será garantia de estabilização. No máximo, fará um mandato tampão conflagrado pela contestação.