Emir Sader: “Brasil, o elo mais fraco da cadeia neoliberal na América Latina”
Brasil 247 – 08/11/2017
A América Latina se havia transformado no elo mas frágil da dominação neoliberal em escala mundial. Por ter sofrido, de forma concentrada, as mudanças no mundo, foi no continente que surgiram os únicos governos antineoliberais.
Depois de mais de uma década de avanços, na contramão da ordem neoliberal que reina no mundo, diminuindo a desigualdade, superando a recessão econômica, desenvolvimento importantes iniciativas de integração regional, esses governos sofrem brutais ofensivas da direita para tentar reverter as conquistas logradas neste século. Estão conseguindo em alguns países – Argentina e Brasil -, sem que, com isso, tenham cumprido o que prometiam: a retomada do crescimento econômico, o combate à pobreza, a diminuição do desemprego. Ao contrario, a situação econômica e social nesses dois países e' muito pior da que eles viviam antes do retorno da direita ao governo.
No novo cenário da região, o Brasil aparece como o elo mais frágil da cadeia neoliberal no continente. A combinação dos vários traços no processo em a direita retomou o governo no Brasil faz com que aconteçam aqui, hoje, os combates mais importantes e decisivos na região.
Ao contrario da Argentina, no Brasil a direita retomou o governo na mediante uma vitória eleitoral – foi derrotada quatro vezes sucessivamente -, mas mediante um golpe parlamentar-juridico-midiatico. O novo presidente e seu governo não tem sequer legitimidade institucional, mais ainda porque colocam em pratica o programa derrotado nas ultimas quatro eleições.
O nível de apoio de que disfruta – de 3% - representa a falta de popularidade da aplicação desse programa, depois do Brasil ter vivido o período mais virtuoso da sua historia, pelo combate à desigualdade, pelo resgate da auto estima dos brasileiros, pela projeção interna e internacional do Lula como o maios líder politico do pais.
A ruptura é sentida como brutal pela população, que o manifesta pelo apoio ao Lula, que ja supera os 40%. A esquerda não está dividida, ainda que haja setores minoritários que não manifestam diretamente seu apoio ao Lula, mas que reconhecem nele o grande dirigente que pode resgatar a democracia, o desenvolvimento econômico e a justiça social.
Enquanto a direita não tem candidato, seu partido tradicional, o PSDB, paga o preço caro do apoio ao golpe a o governo Temer. A direita busca nomes de fora da política, mas o que lhe falta é um discurso e um distanciamento do governo Temer, para encontrar algum candidato com alguma popularidade. O único que mantém certo apoio – o Bolsonaro – é de extrema direita, o que só facilitaria o triunfo do Lula.
Por todos esses fatores é que o Brasil tornou-se o elo mais frágil da cadeia neoliberal na America Latina. Se decide o futuro do Brasil nos próximos 12 meses ou inclusive antes. Ou a direita, de uma ou outra forma, se consolida no Brasil e se consolida ao mesmo tempo a virada conservadora na região. Ou Lula ou o candidato que ele apoie triunfa e o Brasil retoma a direção política e econômica anterior, com as respectivas consequências para a America Latina.
A combinação entre um governo extremamente débil e uma candidatura forte como a do Lula é o que torna a disputa no Brasil decisiva para o futuro do pais e de toda a América Latina.
Lula se joga por inteiro nas Caravanas, que se tornaram o maior instrumento de mobilização popular, de consciência política do povo e de formulação do programa de resgate do País. Quanto mais é atacado pela mídia e por setores do Judiciário, mais aumenta a popularidade de Lula e seu favoritismo. O fortalecimento do nome do Lula representa a deslocação dos consensos hegemônicos no pais, agora centrados de novo no desenvolvimento e na distribuição de renda. O que se fortalece com o nome do Lula é o projeto de restabelecimento da democracia, do crescimento econômico e da inclusão social.
O futuro do neoliberalismo no Brasil e na America Latina se joga nos próximos meses, no destino do projeto comandado pelo Lula.
Emir Sader é um sociólogo e cientista político brasileiro.