Fernando Brito: “Ilimar Franco: como os tucanos saíram depenados do impeachment”
Fernando Brito
Tijolaço – 16/11/2015
Ilimar Franco, um dos raros colunistas de política que não pratica a vaidade como componente principal de seu trabalho é, por isso, um dos mais competentes e equilibrados analistas do cenário político, até porque se desobriga de, como outros, ter um script determinado e dar atenção a este detalhe tão fora de moda chamado fato.
E é com fatos que ele traduz uma situação que precisa ser compreendida para que tanto o Governo quanto a oposição definam suas ações: o “impeachment” de Dilma, ao menos no curto prazo, está descartado como perspectiva política e não é mais bandeira senão para grupos isolados, sem representatividade que, aliás, acabarão engendrando uma candidatura e uma organização de extrema-direita, de características de classe média urbana. coisa que não se pôde, até agora, dizer de seus histriônicos representantes eleitorais.
A política real, de disputa pela representação se dará em torno de outras questões, não mais em torno do golpismo.
A questão urgente – e mais que isso, decisiva em 2018 – é a de como e quem pode se apresentar à população como capaz de resgatar o crescimento econômico, não o discurso moralista mais histérico.
A maré da histeria passou e os tucanos se viram na praia, ao lado de Eduardo Cunha. Recuaram, como caranguejos.
E Ilimar Franco lhes narra, com precisão, o seu atabalhoado recuo.
O PSDB perdeu a batalha do impeachment
Ilimar Franco, em O Globo
Passaram-se 11 meses desde a posse da presidente reeleita, Dilma Rousseff. A crise econômica entrou o ano de 2015 galopando. O PSDB, que perdeu as eleições com 48% dos votos, pegou carona nesse galope. Desde o segundo dia de mandato adotou, como sua principal proposta programática para o país, o impeachment da presidente Dilma.
Estamos no fim de 2015. Por isso, o núcleo estratégico do PSDB debate uma reviravolta na sua linha de ação. Avalia-se que agora se deveria dar prioridade à crise econômica. Em busca de um projeto alternativo, o vice-presidente da Executiva, Alberto Goldman, está coordenando um grupo de trabalho. Na falta dessa linha programática, alguns tucanos constatam, com desconforto, que até o PMDB já tem uma proposta para o Brasil.
— Não podemos adotar a mesma agenda em 2016. Devemos dar prioridade à crise. O PMDB tem uma proposta para o país. O PSDB não tem um projeto definido — alerta o secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP).
Sobre as razões pelas quais a destituição da presidente Dilma não saiu, ele analisa:
— Não saiu por dois motivos. Primeiro: o governo se recompôs. Não temos os votos necessários para recorrer de uma decisão do presidente da Câmara e muito menos os 342 para aprovar o impeachment.
A situação enfrentada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que recebeu o apoio dos tucanos até a última terça-feira, é o segundo fundamento que explica por que fracassou a campanha pelo impeachment.
— O Eduardo Cunha foi se enfraquecendo muito. A saída de Eduardo Cunha é uma exigência. Como ele pode decidir o encaminhamento da votação dos projetos mais importantes para a economia do país? — completa Torres.
Dito isso, não é o caso de debater quem tem razão. Ou do que cada um merece. Se as decisões do TCU ou do TSE são suficientes ou não. Se é necessário, ou não, uma ligação direta da presidente Dilma com a Lava-Jato. Ou se ela sabia ou não do que acontecia na Petrobras. Nem se a derrota da luta pelo impeachment é definitiva ou temporária. Mas cabe analisar friamente o retrato do momento e por que a palavra de ordem da oposição não foi adiante.
1. O PSDB não tem apoio social suficiente para empunhar essa bandeira sozinho. Especialistas dizem que o partido tem o respaldo (direto) entre 15% a 20% dos eleitores nacionais. Sendo assim, o restante de seus votos (como o de qualquer outro partido) é de quem é “anti” alguma coisa.
2. Para o PSDB levar adiante o impeachment, é preciso muito mais que as ruas. O partido deveria estar unido internamente em torno dessa bandeira. Até hoje não está. A legenda deveria reconhecer suas limitações e buscar o apoio de outras forças políticas. Não foi o que os tucanos fizeram. Aliás, a história recente ensina que a unidade das forças foi decisiva no impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
3. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, apostou na divisão. Adotou como sua palavra de ordem “Eleições Já”. Seria o caso de perguntar: ela contribuiu para unir ou dividir as forças políticas? Vamos nos ater ao PMDB. O partido que elegeu o vice-presidente da República.
Um experiente consultor político faz as seguintes perguntas: “Será que o PMDB toparia novas eleições e ser excluído do poder? O partido tem o vice-presidente. Será que ele se conformaria em mendigar a vice na chapa dos tucanos? O partido tem sete ministérios. Será que ele derrubaria a presidente Dilma para depois implorar ao PSDB para que tenha seus sete ministérios?
Enfim, ao defender novas eleições, o PSDB mandou o recado que também queria a cabeça do vice Michel Temer.
4. O alvo do impeachment, a presidente Dilma, não pode ser comparada ao ex-presidente Fernando Collor, que era um outsider. Collor recebeu aquele voto de quem é contra tudo que está aí. Serviu para ganhar, mas não para governar. Por isso, venceu as eleições sem ter base social ou partidária. Mais uma vez, não se trata de debater quem tem ou não razão. O fato é que o PRN não é o PT. Collor e o PRN não tinham no seu entorno um cinturão de políticos e partidos aliados. Ele também não tinha apoio na sociedade, devido às suas medidas econômicas iniciais. Nem mesmo tinha ao seu lado organizações, por mais débeis que sejam, que saíriam em sua defesa, como a CUT, o MST, a UNE, a Contag, a UBES, a CTB etc
5. Por fim, a presidente Dilma e seu governo, têm na retaguarda um líder político como Lula. Por mais quebrada que esteja sua asa, ele não pode ser desprezado. Para muitos, trata-se da maior liderança popular do país desde Getúlio Vargas. Não cabe discutir se é ou não é. As pesquisas públicas mais recentes, neste momento de maré baixa, dão ao ex-presidente a liderança, com 23%, nas pesquisas espontâneas de intenções de voto.
Um dos políticos mais antigos, em atividade, adverte que não se deve subestimar, com o aprofundamento da crise econômica, uma personalidade política que encarna um período de bem-estar. Ele pergunta: “Será que os eleitores não verão em Lula a encarnação de quem seria capaz de trazer de volta a bonança e a prosperidade?”. Se essa imagem se criará, ou não, ninguém sabe.