Inacreditável. Valor Econômico, de julho/2015, relata a “dura luta” do Banco Central para destruir o pleno emprego

28/09/2015 | Economia

As políticas de inclusão e mobilidade social sob os governos do PT levaram a enormes conquistas sociais, com mais de 40 milhões de brasileiros saindo da pobreza, sendo a maioria ingressou na chamada nova classe média. Foram programas sociais como o Bolsa Família; aumentos reais do salário mínimo; criação de 20,5 milhões de empregos formais; forte ampliação das políticas de crédito; programas de inclusão na educação, como as cotas, ProUni, etc. Com isso, o Brasil criou um mercado interno nunca visto antes na história brasileira. Uma das “dores do crescimento econômico” foi a manutenção da inflação sob controle mas bastante pressionada com a inclusão de milhões de pessoas no mercado de consumo. 

Dez entre dez economistas neoliberais defendem que para a inflação convergir para a meta de 3% a 4% ao ano é preciso aumentar bastante o desemprego para algo próximo de 10% ao ano. Os economistas neoliberais estão tão assanhados que não escondem a diretriz central de combate à inflação: o aumento do desemprego. Veja o que disseram economistas liberais alinhados com o PSDB sobre o desemprego: “Sem aumentar a taxa de desemprego será difícil manter a inflação sob controle num prazo mais longo - a inflação vai se acelerar lentamente.” (José Marcio Camargo, Estadão, 24/03/2013) (...) “A saída é frear a economia. Demitir mesmo!” (Alexandre Schwartsman, O Globo, 25/03/2013).

O Banco Central de Dilma optou por destruir o pleno emprego

O que ninguém esperava é que o Banco Central de Dilma, comandado por  Alexandre Tombini, um funcionário de carreira, que trouxe os juros para a mínima histórica de 7,25% ao ano, liderasse um processo de “overdose de juros”, que levou a Selic para 14,25% ao ano, de 3% a 4% acima do que cobrava o mercado financeiro. Um dos analistas de mercado, em entrevista ao jornal Valor Econômico, chegou a afirmar que juros neste percentual seria um “veneno para a economia”.

O repórter Alex Ribeiro, do Valor Econômico, relata em sua coluna de 15/07/2015, a política que levou o Banco Central a destruir o pleno emprego no Brasil, que é sorrateiramente apresentada como “distensão do mercado de trabalho”. Ele escreveu: “O processo de distensão do mercado de trabalho está ocorrendo mais cedo do que o esperado pelo Banco Central, especialmente nos acordos sindicais e evolução dos salários. A ancoragem das expectativas de inflação do setor privado também tem sido mais rápida do que o previsto”.(...) “Para o BC, os dados mais recentes já dão segurança ao diagnóstico do Copom, que vinha sendo apresentado de forma muito cautelosa, de que o mercado de trabalho sofre uma correção acelerada, com impactos positivos sobre a dinâmica da inflação”.

Alex Ribeiro disse que o pleno emprego no Brasil contrariava as leis da economia: “Restabeleceu-se, segundo essa visão, a relação entre a desaceleração da economia e o aumento de desemprego, a chamada Lei de Okun, que parecia ter se rompido nos últimos anos. Entre 2013 e 2014, a expansão da economia caiu abaixo do Produto Interno Bruto (PIB) potencial, mas o desemprego parecia absolutamente imune a isso”.(...) “Os economistas levantaram muitas teses para tentar explicar o rompimento da Lei de Okun. Entre elas, a de que, devido a mudanças demográficas e programas sociais, reduziu-se a oferta de mão de obra no mercado”.

A politica de juros do Banco Central impactou na economia muito mais que os burocratas esperavam: “Neste ambiente, mesmo com a queda das receitas provocada pela recessão, empresas decidiram segurar seus escassos trabalhadores. Para isso, contaram com a ajuda de programas do governo que ofereciam subsídios para quem mantivesse a sua força de trabalho. E foram encorajados pela crença de que, em meio a tantas políticas anticíclicas do governo, a desaceleração seria curta. O quadro mudou completamente neste ano, com a revisão de programas sociais e cortes de subsídios a empresas que mantivessem os empregos”. (...) “Tudo isso já vinha sendo discutido pelos economistas privados. O que vem chamando a atenção do Banco Central agora é que o ajuste do mercado de trabalho está sendo mais forte do que o esperado. Uma das teorias que tentam explicar isso é que, depois de ter represado demissões nos últimos anos em meio a queda na receita, as empresas agora estão tendo que recuperar o tempo perdido e fazer um ajuste mais profundo”.

O Banco Central comemorou, além do fechamento de postos de trabalho, também o arrocho salarial: “Algo notável desse processo de correção do mercado de trabalho, para o BC, é que ele tem se concentrado não tanto na quantidade, mas sobretudo nos preços. A taxa de desemprego subiu um bocado, para 6,7% em maio, mas muitos economistas acreditavam que poderia ser ainda maior. O que está acontecendo com força é a moderação da alta dos salários, com perdas reais. Há perspectivas de queda nominal de salários em negociações sindicais, algo difícil de se imaginar numa economia com o grau de rigidez no mercado de trabalho como o Brasil”.(...) “Resta quase um ano e meio até o final de 2016, data que o BC promete cumprir a meta de inflação, um período bem longo. No fim das contas, o enfraquecimento do mercado de trabalho só levará à baixa efetiva da inflação se a política monetária se mantiver crível”.

Que resultados temos na economia hoje? Já são quase 1 milhão de empregos com carteira assinada fechados em 12 meses; os investimentos deverão cair mais de 12%; o consumo das famílias desabou 2,4% e a recessão deverá atingir -3%, a maior dos últimos 22 anos no Brasil. E o pior: a recessão está inviabilizando o ajuste fiscal e a estabilização da dívida bruta, já que as perdas nas receitas são superiores aos cortes de gastos, o que dificulta a retomada do crescimento da economia. 

É um processo dramático para o governo Dilma Rousseff. Se a presidenta der uma cavalo-de-pau na economia, demitir a dupla Levy/Tombini teremos abalos ainda mais fortes na economia. Mas manter também o Plano Levy/Tombini, tudo indica, é apenas adiar o sofrimento e a aprofundar a recessão da economia. 

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