João Gualberto Jr: “A solução é vender o Brasil”
O Tempo – 10/10/2016
Este mês é essencial para o futuro do país. As cartas postas na mesa, a depender da combinação vitoriosa, irão vaticinar o destino de uma geração, especialmente dos mais pobres. E o que mais dói é a soma de indiferença e ignorância. Seguimos com nossa programaçãozinha normal.
Clareiam-se, dia após dia, as reais motivações do grupo político que, no Parlamento e dentro do governo, viabilizou o impeachment. Assim como se confirmam as suspeitas sobre os interesses reais da força-tarefa da Lava Jato. Moralizar a política e extirpar a corrupção? Bobagem, quando esta é disseminada no amplo espectro partidário e só parece haver um alvo, um inimigo. Quer-se, com o golpe parlamentar e com a Lava Jato, destruir o PT? Sim, mas isso é meio, não fim.
O que se quer? Reduzir o tamanho do Estado brasileiro e sua influência na sociedade para que o setor privado seja beneficiado de duas formas: pagando menos impostos e lucrando ao ocupar espaços que hoje são do governo federal. Intensificam-se, agora, os esforços de enxugamento do Estado por meio de projetos encaminhados pelo governo e bem-recebidos por seu bloco de apoio no Congresso, majoritariamente constituído por lobistas diretos.
O primeiro é o projeto do hoje ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB), que desobriga a Petrobras de participar da exploração dos campos de petróleo na camada pré-sal. O argumento favorável de que a estatal está descapitalizada e endividada. Pois dois são os motivos para esse quadro ruim: o primeiro são os investimentos em projetos para viabilizar a exploração e reduzir os custos da extração, e o segundo, o impacto da operação Lava Jato.
Quais as chances de a Petrobras se candidatar a explorar os campos a serem leiloados nos próximos meses? Estima-se que, no médio prazo, a perda de receita da estatal – e do Estado brasileiro –, ao abdicar da produção, com a permissão da lei a ser aprovada, seja o sêxtuplo dos R$ 42 bilhões em corrupção que a Federal e o MPF acreditam denunciar. Dica para pesquisa no Google: Serra + Wikileaks + Chevron.
E está prevista para hoje, na Câmara, a votação da PEC 241, a conversão em proposta de emenda da Ponte para o Futuro, o plano de (não) governo imposto pela Fiesp a Temer. Se for aprovado e sancionado, este será um dos mais graves crimes orçamentários da história: o congelamento de gastos em políticas públicas por 20 anos, inclusive em saúde e em educação, sim, ao contrário do que afirma o presidente golpista. Além disso, promoverá a indexação inflacionária do Orçamento (a volta da era Sarney?). Uma geração e, possivelmente, a seguinte estarão condenadas pelo comprometimento do Estado em prover serviços que visem à mínima promoção de igualdade de oportunidade e de ascensão social dos mais pobres. É um tiro de morte na Constituição cidadã de Ulysses. Para a Procuradoria Geral República (PGR), ela é inconstitucional.
Por que o Congresso não está cercado hoje, com ameaças de invasão e bombas? Porque é eficaz a vigilância ao edifício em favor dessa PEC desgraçada. Ouço e leio que, por ser contra ela, sou inimigo do Brasil. Mas quem são os amigos?