Luís Nassif afirma que a manifestação de 16 de agosto é o fim de um ciclo político no Brasil
Luís Nassif, do Jornal GGN, é um dos analistas, que, junto com Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, de forma sensata, sempre avaliou que não teremos no Brasil algum tipo de golpe branco, como no Paraguai. No mês de julho, escreveu o artigo “O dia seguinte ao impeachment”, onde descrevia possíveis cenários que fariam as forças políticas e econômicas não apostarem no caminho de deposição da presidenta Dilma.
Afirmou Luís Nassif o que seria o pós-impeachment: “Do lado esquerdo, movimentos sociais, sindicatos e estudantes sairão às ruas protestando. Do lado direito, sairão os grupos vociferantes que dominaram as ruas nas últimas manifestações. Entre ambos, os inevitáveis black blocs e baderneiros em geral”.(...) “Para manter a ordem, governos estaduais darão um liberou geral para suas Polícias Militares. Dado o grau de exacerbação produzido pelo impeachment, as pancadarias de Curitiba parecerão bailes de debutantes perto do novo quadro”. (...) “A bandeira da anticorrupção será levantada em todos os rincões do país e se transformará em palavra de ordem. Bastará o casamento de um juiz de primeira instância justiceiro com um procurador vingador para os mais poderosos se abalarem e os menos poderosos serem varridos do mapa”.(...) “Haverá uma caça às bruxas na qual grupos de extrema direita, a exemplo do antigo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), sairão a campo para denunciar, prender e agredir os recalcitrantes. A enxurrada levará não apenas militantes petistas, mas quem ousar investir contra a onda”. (...) “Lula não poderá sair sem escolta nas ruas. Mas Fernando Henrique Cardoso também não. O sentimento de ódio prevalecerá em todas as instâncias”. (...) “Pouco importa se a guerra quebrar grandes grupos, produzir estragos nos pequenos e médios, ampliar o desemprego e o descontrole. O que importa é o poder”.(...) “Quando o grau de fervura estiver insuportável, serão convocadas as Forças Armadas, para colocar um mínimo de ordem no caos produzido pela elite política. Fora isso, nada demais ocorreria em caso de impeachment”. (...) “Daí porque o maior risco não é a possibilidade de um impeachment. Mas de Dilma jogar a toalha”.
Nassif prevê o início de um novo ciclo político
Luiz Nassif avalia que a passeata de 16 de agosto marca o fim de um ciclo político: “Hoje encerra-se oficialmente um ciclo político no país: o da intolerância. Multidões ainda sairão às ruas como renas amestradas. Baterão panelas atrás do impeachment e cabeças atrás de ideias. E não terão nem uma, nem outra”. (...) “Gradativamente a grande besta será recolhida de volta à jaula pela ação combinada de lideranças políticas efetivas de ambos os lados, grupos econômicos e grupos de mídia”. (...) “Em parte, devido à conclusão de que o petismo foi definitivamente derrotado. Se acabou ou não, o futuro dirá. Mas, neste momento, jogar mais lenha na fogueira seria passar o bastão para os piromaníacos e não se ter mais o controle da turba. O atentado contra o Instituto Lula é a prova definitiva da marcha da insensatez”. (...) “Em parte, devido ao fato de que o PSDB se derrotou, morreu enforcado nas tripas do PT”. (...) “Nesta data magna de 16 de agosto de 2015, o bipartidarismo que, desde a Constituição de 1988, dominou a vida pública do país, definitivamente se esgotou”. (...) “O PT tornou-se uma militância sem partido, atrás de uma nova utopia. O PSDB, o estuário de uma turba vociferante e anacrônica, deixando órfã a classe média esclarecida que um dia nele acreditou”.
Nassif conclui o artigo com um balanço do estrago: “No final da tarde, quando a passeata terminar e a besta, as panelas e o ódio forem recolhidos, começará o duro reencontro do país consigo mesmo”. (...) “Jornais e TVs deixarão de recriar o clima de fim de mundo. Ontem, aliás, após ajudar a desmontar setores com centenas de milhares de empregos, o Jornal Nacional resolveu recriar a esperança, em cima do micro-exemplo de uma micro-empreendedora que criou um negócio com um funcionário e agora já tem três. É o milagre da hipocrisia de massa”. (...) “Com o ódio refluindo, a Lava Jato ainda terá tempo de provar se é um poder autônomo ou um poder autorizado pela mídia. A prova do pudim será José Serra”. (...) “A esquerda terá que se reinventar. Os que ainda alimentam a utopia de que a economia de mercado não é irreversível se abrigarão em partidos menores. O PT - e Lula - terão o enorme desafio de se reinventar, mais facilmente Lula, mais dificilmente o PT”. “Em 2018 é mais provável ter-se um Lulismo - na forma de frente ampla - substituindo o PT”.(...) “Os movimentos sociais, que amam e continuarão amando Lula, encontrarão abrigo nessa frente ampla, social-democrata. Os que ainda acreditam na utopia socialista, irão para partidos menores”. (...) “No outro extremo, o ódio da direita será a última herança de Aécio Neves. Aécio é tão tolo e despreparado que ainda não entendeu que o que acreditava ser a tomada da Bastilha era apenas a última passeata da Ilha Fiscal. Terminará recluso em algum castelo encantado de Linchenstein, cercado por um convescote de sábios, dentre os quais de destacarão Ronaldo Caiado, Aloyzio Nunes, Carlos Sampaio, e no qual as ideias serão proibidas de entrar (coloquei Nunes de sacanagem: ele, como um pitbull esperto, está tão louco para pular do barco que até conseguiu conter a fala raivosa)”. (...) “Daqui até 2018 Dilma Rousseff terá tempo para governar”.(...) “Obviamente, esse romance foi escrito em cima dos personagens atuais. Há muita água e lama a rolar até 2018. Tentar adivinhar é um desafio que nenhuma ficção ousará enfrentar”.