Mara Telles: Uma breve análise das eleições municipais
Facebook Mara Telles – 31/10/2016
Em primeiro lugar, Kalil. Em segundo lugar, Aécio. Finalmente, as eleições municipais não significam uma "derrota" da esquerda e a "direitização" do eleitorado. De acordo com estudos, que já apresentei aqui, o eleitor brasileiro se apresenta como 6,4 numa escala de 0 a 10, onde 0 é mais a esquerda e 10 mais a direita.
Ou seja, o eleitorado brasileiro já era de centro-direita. Mas, ao contrário dos hiper-pessimistas, apesar do eleitor ser conservador em termos morais, ele vem perdendo tal conservadorismo ao longo do tempo, conforme outros estudos têm apontado recentemente. Então, não se pode derrotar aquilo que nunca foi.
Mas, a esquerda perdeu? Sim, mas quem perdeu foram os partidos de esquerda e de forma acachapante porque não souberam ou não tiveram condições para aglutinar estes eleitores, que estão desencantados com a política, receosos da crise econômica e sob o impacto das volumosas notícias sobre os "desvios éticos", atribuídos pelos meios de comunicação sobretudo ao PT, mas que contaminam as outras esquerdas em geral, como o PSOL, que também perdeu votos em todo o país.
O PSDB nada de braçadas na rejeição do PT, os candidatos milionários e o discurso empresarial cresceram como alternativa ao "mundo mau" ofertado pelos "políticos corruptos" e a anti-política é a bola da vez. Mas, menos minha gente! 2016 são eleições desviantes, elas pouco servem para nos dizer sobre 2018.
O máximo que se pode dizer é que 2018 (se existir) serão mais fragmentadas, mais próximas das eleições de 1989 - a eleição com maior número de candidatos após a redemocratização e com forte desejo do "novo" . Mas, não existe nenhum candidato "novo" por aí e, ao contrário dos discursos de hoje que apregoam a morte de Lula, eu suspeito que o lulismo (novamente!) é o que dará o tom de 2018, caso Lula não seja condenado. Não se pode dizer que está morto um nome que tem em média 32% das preferências populares.
São as outras candidaturas que terão que se articular como "novas" e contestar a liderança de Lula que, se candidato for, irá para o segundo turno em qualquer cenário. Alckimin e Marina não são novos e não há no horizonte nenhum outro nome disponível até o momento para se colocar no vazio político. Onde os candidatos de direita venceram? Ora bolas, no reduto Lulista e entre os eleitores dilmistas - sem ver nenhum dado sou capaz de apostar que boa parte dos neo-crivelistas deram seu voto para Dilma em 2014 e que as periferias de São Paulo já votaram várias vezes em Lula e que o pessoal do Kalil avançou no eleitorado popular petista de BH.
As eleições estão nos dizendo que não adianta choramingar e ser Don Quixote: para o bem ou para o mal, o eleitor é de centro-direita e as candidaturas de esquerda têm que aprender novamente a dialogar com o povo, que quer mais comida do que cultura. É o materialismo puro, representado pelo crescimento econômico, controle da inflação e para botar "ordem" neste caos.
Desordem (crise politica e econômica) sempre beneficiou a direita, pois o eleitor passa a desejar Líderes fortes. E as eleições mostram aquilo que eu já vinha martelando: discurso pós-materialista (aborto, gênero, união entre pessoas do mesmo sexo) feito do PSOL é importante sim, mas penetra em segmentos restritos.
É uma pauta necessária, mas insuficiente para eleger para o executivo municipal ou federal. No máximo, elege deputados e vereadores. Qual a saída? Até agora, o que dá para dizer é que não adianta ser muito moderninho, não ter líderes nacionais e não fazer alianças com o centro. O PMDB fisiológico ainda continuará dando as cartas por muito tempo e ele está no topo dos prefeitos eleitos. Fazer o que? Pensar e refletir.
O Brasil está muito mais próximo da América Latina do que da Dinamarca. Sem enxergar isso, a esquerda vai perder seu tempo e perder mais votos. E, nesta selva desvairada, só tem um nome (infelizmente): o frágil, mas ainda necessário Lula. Quem pode entrar nos pobres-empobrecidos e desencantados senão ele?