Marcus Eduardo de Oliveira: "Limites do planeta"

26/05/2015 | Meio ambiente

Marcus Eduardo de Oliveira

EcoD, 23 de maio de 2015

Segundo estimativas feitas pela demografia, em 2046, 9 bilhões de pessoas estarão habitando o Planeta Terra. Um único planeta para que 9 bilhões de bocas sejam alimentadas. O resultado disso é claro: aumentará a pressão por alimentos, água, madeira, fibras e combustível. É evidente, no entanto, que a partir disso emerge um conflito: muita gente, pouco alimento e uma corrida contra o tempo.

Cerca de 70% do consumo mundial de água é destinado à produção alimentar

Se, cem anos atrás, o mundo demorava três décadas para conhecer um bilhão a mais de pessoas, atualmente bastam 12 anos para que isso aconteça. Portanto, foi reduzido em um terço o tempo gasto para isso.

Quatro décadas apenas, desde 1970, foram suficientes para que se dobrasse a população mundial – de 3,7 bilhões para 7,1 bilhões. São 80 milhões de nascimentos ao ano; 220 mil novas almas habitando a Terra a cada novo amanhecer.

Contudo, é verdade que nesses últimos anos em alguns países a produtividade agrícola fez sucesso e aumentou a produção alimentar.

Em outras áreas, entretanto, o efeito foi o contrário. A produção de alimentos por habitante do planeta, em contraponto ao aumento populacional, diminuiu sensivelmente em algumas grandes regiões, especialmente em locais onde o excesso populacional é latente, como na África subsaariana.

Quanto a isso, o caso indiano parece ser um dos mais graves: o aumento populacional que triplicou entre os hindus (de 371 milhões de habitantes, em 1950, para 1,2 bilhão em 2010) absorveu todo o ganho da produtividade de grãos.

Recai sobre o meio ambiente as consequências dessa relação conflituosa entre a existência de mais gente e menos alimentos disponíveis.

Em artigo reproduzido alguns anos atrás pela Scientific American, Jeffrey Sachs, um dos mais renomados economistas contemporâneos, contextualiza dizendo que “a produção alimentar é responsável por um terço de toda a emissão de gases do efeito estufa; isso inclui os poluentes gerados pelos combustíveis fósseis utilizados na preparação e transporte dos alimentos, o dióxido de carbono liberado pela aragem da terra para a agricultura e pastagem, o metano produzido pelos arrozais e rebanhos de ruminantes, bem como o óxido nitroso proveniente do uso de fertilizantes”.

Continua Sachs afirmando que “por devastar as matas, a produção de alimentos também responde por muito da perda de biodiversidade. Os fertilizantes químicos formam grandes depósitos de nitrogênio e fósforo, que agora destroem esteiros – trecho de rio ou mar que adentra na terra – de centenas de sistemas fluviais ameaçando a química oceânica.

Cerca de 70% do consumo mundial de água é destinado à produção alimentar, causando o esgotamento dos lençóis freáticos e uso ecologicamente predatório de água doce, desde a Califórnia até a planície indo-gangética, passando pela Ásia central e norte da China”.

Frente a isso, torna-se pertinente a seguinte indagação: o que precisa ser feito com brevidade para a reversão desse quadro? Ao menos uma resposta conjugada parece ser de consenso entre os observadores das condições ambientais: deve-se elevar a produção agrícola ao mesmo tempo em que programas de planejamento familiar passem a ganhar proeminência junto às populações mais carentes e distantes de informações específicas.

É fato concreto que dentro do cenário conflituoso descrito anteriormente, todos perdemos. Indiscutivelmente, a perda mais grave está localizada na alteração da capacidade reguladora da Terra que se encontra em desequilíbrio. O motivo? A ultrapassagem das fronteiras ecossistêmicas, rompendo assim os limites do Planeta Terra. As graves consequências? Riscos de vidas humanas e animais serem dirimidas.

Especificamente, cabe então apontar quais são as fronteiras existentes e quantas já foram rompidas pela ação humana.

De acordo com o estudo “Planetary Boundaries”, coordenado por Johan Rockstrom, diretor executivo do Stockholm Resilience Centre, localizado na Suécia, são nove (ilustração abaixo) as fronteiras ecológicas que estão no centro das atenções, tipificadas como “espaço operacional seguro para a humanidade”, a saber: mudanças climáticas, camada de ozônio, uso do solo, uso de água doce, diversidade biológica, acidificação dos oceanos, ciclo do nitrogênio e do fósforo, materiais particulados (aerossóis) e poluição química.

Três desses limites (fronteiras) - mudanças climáticas, diversidade biológica e ciclo do nitrogênio - segundo as evidências até aqui disponíveis, já apresentam sinais de terem sido ultrapassados, agravando mais ainda o já aquecido planeta.

Evidentemente, quanto mais quente o planeta ficar, pior será a qualidade de vida, confluindo assim para uma situação que, segundo previsões das autoridades científicas que respondem em nome do (IPCC), o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, geraria uma degradação ambiental maior ainda que a atual, prejudicando, sobremaneira, a capacidade do planeta em fornecer peixes e água doce, reciclar nutrientes do solo e controlar o próprio clima.

Com isso, é certo que o número de espécies da flora necessárias para assegurar o equilíbrio cairá, em prejuízo da qualidade do ar. Parte substancial da fauna desaparecerá. Razão pela qual é de senso comum afirmar que estamos diante do sexto maior evento de extinção de espécies da história da Terra.

Não por acaso, de 10% a 30% das espécies de mamíferos, aves e anfíbios começaram a desaparecer em ritmo acelerado.

*Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do Unifieo, em São Paulo. 

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