Paulo Nogueira: “Como Dilma poderia fazer mais do que fez sendo sabotada desde antes de assumir o novo mandato?”
Diário do Centro do Mundo – 05/12/2015
Dilma está sendo bombardeada muito além da conta.
Me chamou a atenção o número de artigos em que pessoas que condenam o impeachment fazem questão de dizer que Dilma vem fazendo um governo péssimo e é irremediavelmente incompetente.
Um momento.
Gostaria de saber quais as razões concretas por trás dessa avaliação.
Dilma, a rigor, fez um mandato. Se os brasileiros não aprovassem seu desempenho ela não teria sido eleita. Isto é fato.
Para colocar em contexto, ela venceu em circunstâncias extraordinariamente adversas, o que dá ainda maior legitimidade à vitória.
A imprensa fez tudo o que podia para sabotar sua candidatura. Aécio foi escandalosamente favorecido. A imprensa tratou-o como seu candidato.
Dilma foi, em todos os momentos da campanha, massacrada por jornais, revistas, telejornais. O caso da Petrobras veio para liquidá-la.
Aécio não foi associado sequer ao helicóptero cheio de cocaína de seu amigo do peito (e de clube) Perrela.
O favorecimento criminoso da mídia a Aécio, neste episódio, pode ser avaliado diante das obsessivas menções, agora, a um “amigo de Lula”.
Perrela, para a imprensa e só para ela, não era amigo de Aécio.
Sequer o aeroporto privado que Aécio construiu com dinheiro público numa cidade mineira foi objeto de questionamento da imprensa.
A Folha tocou no assunto, e logo caiu fora. Aparentemente, estava mais preocupada em fazer marketing – o do rabo que não está preso – do que jornalismo efetivamente.
E a Globo fez uma palhaçada. Depois de ignorar o assunto, Bonner, em sua entrevista com Aécio, interpelou-o duramente sobre o aeroporto. De novo: depois de esconder o aeroporto.
Aécio, se fosse mais esperto, poderia responder: “Ora, Bonner, se o assunto fosse importante, vocês teriam dado bem no Jornal Nacional.”
Seria um ippon.
Dilma viveu uma situação oposta. A obra magna da imprensa foi a capa da Veja na véspera da eleição.
Baseada numa mentira acintosa, a de que um delator teria dito que Dilma e Lula sabiam de tudo no Petrolão, a capa foi maciçamente usada como propaganda política antipetista no maior colégio eleitoral do país, São Paulo.
O gangsterismo da Veja se comprovaria, algum tempo depois, quando foi publicado o real conteúdo da delação. Em nenhum instante o delator disse o que a Veja disse que ele disse.
Pois bem.
Com tudo isso, e sem ser uma debatedora com os dotes de Lula, Dilma venceu.
O povo, portanto, a aprovou. Deu-lhe mais um mandato.
E o que veio depois?
Dilma nem assumira e se iniciou um descarado movimento para derrubá-la. A direita, sem pudor, repetiu o que fizera em 1954 e 1964: tentar tirar na marra um governante de caráter popular.
Governar um país é difícil. Quando este país tem uma estrutura secularmente voltada para preservar privilégios e mamatas de uma pequena elite predadora, é ainda mais complicado.
Agora: quando você é sabotado a cada minuto, é simplesmente impossível. E Dilma vem sendo sabotada em regime de 24 horas por 7 dias. Não há feriado, não há dia santo, não há sábado e não há domingo.
Se você olhar para trás, vai ver que até os números de votos foram postos em dúvida. Nem a direita venezuelana chegou a tal grau de abjeção.
Como, diante disso, avaliar Dilma? Quem faria melhor? Quem teria chance de fazer melhor?
Ninguém.
A “incompetência” é, ao lado da corrupção, uma antiga arma usada pela plutocracia brasileira contra presidentes que ela não controla. Jango foi o tempo inteiro acusado de incompetente quando criavam contra ele dificuldades simplesmente intransponíveis.
É a mesma história com Dilma.
A direita inviabiliza qualquer chance de você governar e depois acusa você de inepto.
Não há limites para o descaramento. Aécio, para defender o impeachment, disse nestes dias que a instabilidade é enorme no Brasil.
Ora, a instabilidade tem um nome: Aécio. Desde o primeiro dia ele se dedica a conspirar contra 54 milhões de votos.
O mandato de Dilma é de quatro anos. E no entanto desde a primeira semana cobravam dela como se fosse a última.
É golpe, é uma tentativa intolerável de destruir a democracia, falar em qualquer coisa que desconsidere que Dilma foi eleita para governar até 2018.
O momento de julgá-la – nas urnas – foi no final de 2014.
Querer tirá-la no poder agora, e com os argumentos desumanamente falaciosos que estão sendo utilizados, é um crime de lesa pátria e lesa democracia.