Raquel Faria: “Elizabeth Warren vem aí para ruína de Trump. E azar de Bolsonaro”
Raquel Faria
Os Novos Inconfidentes,15/09/2019
Os EUA caminham para quebrar dois paradigmas em 2020: a eleição pela primeira vez de uma mulher para presidente e de um governo de esquerda. Com críticas à desigualdade social e ao sistema financeiro, a senadora Elizabeth Warren é quem mais cresce na corrida pela indicação do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump; ela está pintando como a grande favorita, a bola da vez na Casa Branca. Para azar de Bolsonaro e seus filhos no Brasil.
Elizabeth ainda não lidera as pesquisas; está em segundo, atrás de Joe Biden, ex-vice de Obama. Mas já passou o seu maior rival no eleitorado progressista, Bernnie Sanders. Juntos, os dois candidatos de esquerda, Elizabeth e Sanders, reúnem apoios para bater Biden com folga. Pela lógica da disputa, eles devem se aliar às vésperas da convenção, um renunciando a favor de quem estiver à frente. E no momento, a provável beneficiária da aliança seria a senadora.
O maior desafio para Elizabeth é derrotar Biden na convenção democrata. Vencida esta etapa, a seguinte parece menos difícil, que é enfrentar Donald Trump. Segundo as últimas pesquisas, divulgadas pela Langer Research Associates, todos os principais nomes democratas ganhariam hoje de Trump por diferenças de 6 a 14 pontos (11 no caso de Elizabeth).
Quem ganhar a convenção democrata estará com um pé na Casa Branca. Todas as pesquisas apontam alta rejeição ao governo Trump, superior a 40%. A tendência eleitoral é toda favorável à oposição, apesar dos bons indicadores econômicos nos EUA. E por que a economia não ajuda Trump? Porque a bonança nos últimos anos não é um mérito dele. É parte da herança de Obama, que deixou o país em franca recuperação e por isso fechou o mandato com grande popularidade.
Na realidade, Trump está sendo visto por um número crescente de eleitores como uma ameaça à economia. Sua guerra comercial com a China e outras atitudes erráticas vêm suscitando temor e incerteza. Trump virou fator de insegurança, imprevisibilidade. Nunca se sabe o que esperar do seu próximo tuite.
Outro obstáculo à reeleição de Trump é o cansaço. Quando se elegeu em 2016, ele era um outsider com discurso diferente e atraente. Agora, é um presidente repetitivo e inconsequente, sem proposta para contrapor à novidade política da campanha, que é a emergente Elizabeth Warren e seu discurso social-pragmático.
Muitos analistas apostam em Biden, contra Elizabeth, com base na avaliação de que o eleitor não aceita esquerdismo e optaria pelo ex-vice-presidente de perfil centrista. Pode ser. Mas, a eleição de Trump já mostrou que os EUA toleram certo risco eleitoral. No realidade, a onda esquerdista no Partido Democrata começou há três anos com Sanders e está chegando ao ápice com o fenômeno Elizabeth, não por acaso a única candidatura que reúne multidões a pouco mais de um ano das eleições.
O favoritismo da senadora de esquerda é a pior notícia para Jair Bolsonaro. O presidente brasileiro vem investindo pesado na aliança com Trump; toda a sua política em relação aos EUA, inclusive a escolha do filho Eduardo para embaixador em Washington, passa pela reeleição do aliado republicano. Um retorno democrata à Casa Branca, e com uma plataforma esquerdista, antagônica ao bolsonarismo, significaria um tremendo golpe para o presidente brasileiro. Um golpe capaz de impor-lhe o isolamento internacional e comprometer a sua governabilidade.
Por prudência e respeito aos fatos, Bolsonaro deveria recuar em sua aderência deslumbrada ao trumpismo. Para adotar uma política mais profissional, diplomática e ideologicamente neutra em relação à politica nos EUA. Se insistir em colocar todas as fichas em Trump, Bolsonaro pode colher um novo fiasco como na Argentina, onde apostou tudo em Macri e queimou pontes com o provável vitorioso Fernandez. No caso dos EUA, com repercussões muito maiores para o Brasil e seu governo. Mas, o presidente não dá atenção a esse tipo de recomendação. Só ouve o quer.
Raquel Faria é jornalista.