Resenha política 1. Não vai ter golpe! Democracia demonstrou capacidade de resistência às articulações golpistas
Vamos, semanalmente, no site da deputada petista Marília Campos, realizar uma resenha política da semana, que buscaremos divulgar às sextas feiras. Nesta semana tratamos da crise política, que experimentou, nos últimos dias, importantes reviravoltas, tornando mais difícil a vida dos golpistas de plantão.
Um grito que ecoa em todo o Brasil: “Não vai ter golpe!”
As manifestações do dia 20 de agosto, convocadas pela CUT, CTB, UNE, MST e outros movimentos sociais, com apoio de partidos de esquerda como o PT e PCdoB, significaram uma importante inflexão na disputa política atual. Em primeiro lugar, as manifestações marcaram o protagonismo popular e ganharam densidade em número de pessoas. Convocado tendo como eixos “Tomar as ruas por direitos, liberdade e democracia”, o ato reuniu milhares de pessoas em todo o Brasil, contra as pautas conservadoras, o ajuste fiscal e em defesa de reformas populares. E importante: ao invés de apenas denunciar as articulações golpistas, as entidades e os manifestantes firmaram uma posição ofensiva em um grito que está tomando conta do Brasil: “Não vai ter golpe!”.
Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, deu uma enorme contribuição na inflexão na luta contra o golpe, em um artigo histórico publicado no dia 06 de julho, denominado “Não vai haver golpe, e veja aqui as razões”. Ele afirmou: “Cansei. Cansei do clima de derrota, de desolação, de paranoia que se alastrou pelos círculos progressistas nas redes sociais. É como se o golpe fosse uma coisa inevitável. Não poderia haver coisa mais errada. Não vai haver golpe. Repito. NÃO vai haver golpe. Lamento as maiúsculas, mas são necessárias neste caso. 2015 não é 1954 e não é 1964”.
O blogueiro continuou: “As circunstâncias são diferentes, completamente diversas – exceto pela vontade da direita de subverter o resultado das urnas e a democracia. Alguns pontos: a) Não vivemos numa Guerra Fria. Os Estados Unidos, consequentemente, não têm marines prontos para despachar para o Brasil para defender os golpistas de direita; b) Não existe, no Brasil, um exército mobilizado para colocar os tanques nas ruas. Foi tão funesta a experiência dos militares no poder – 21 anos de poder e uma desastrosa obra em todos os campos, da política à economia, para não falar da questão social – que não existe a mais remota chance de uma segunda aventura dos generais por séculos; c) Nem Jango e nem Getúlio tiveram a internet como contrapartida para o massacre da mídia; d) Mesmo com o desgaste dos anos e de alianças bisonhas, o PT tem uma base social que ninguém pode subestimar. O Brasil entraria numa convulsão, e a direita sabe disso. Toda a raiva acumulada pela campanha de ódio da direita se traduziria em ódio na mesma medida da esquerda, e o país poderia virtualmente entrar numa guerra civil”.
Paulo Nogueira, afirmou que a gritaria da direita estava imobilizando os progressistas: “Por tudo isso, e por outras coisas que tornariam este artigo interminável, não vai haver golpe. O que a direita quer, com sua gritaria histérica e alucinada, com suas ameaças tonitruantes e vazias, é manter os progressistas acoelhados, imobilizados até 2018. E está conseguindo. Espinha ereta: é isto que está faltando para os progressistas. Coragem. E discernimento”.
O blogueiro fechou o seu artigo histórico afirmando que os progressistas estavam com medo e, citando Montaigne, afirmou que o ‘Meu maior medo é ter medo’: “Nestes dias, amigos no Facebook compartilharam, amedrontados, uma nota do Painel da Folha em que estava, segundo eles, o ‘roteiro do golpe’. O Painel é feito pela mulher de um assessor de Aécio, e ex-editor da Veja. Levar a sério? Faz meses, anos, que a Veja afirma que o governo petista vai cair. Foi assim com Lula, é assim com Dilma. É a vontade da Veja, porque um presidente amigo prolongaria com dinheiro público a vida da Abril, agonizante. Só que entre a vontade da Veja e a realidade vai uma distância enorme. Mas os progressistas parecem desconsiderar, e entram em pânico. O medo imobiliza, e este é o principal problema para os progressistas. Você sente desânimo para dar a melhor resposta para a gritaria conservadora: sair às ruas. É nas ruas que a batalha vai ser ganha ou perdida. E não estou falando em golpe, mas em 2018. Termino com Montaigne. Num de seus melhores ensaios, ele afirmou: “Meu maior medo é ter medo.” Os progressistas estão com medo – e a hora é para adultos, não para meninos assustados”.
No dia 21 de julho foi a vez do combativo Ciro Gomes, no Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim, mandar um duro recado para os golpistas: "O Golpe não acontecerá. Não vai ter e ponto final. Alguns de nós brasileiros estamos dispostos a levar (a resistência ao Golpe) às ultimas consequências. Basta isso para não ter golpe porque eles [os que pregam o golpe] são frouxos, não aguentam a pressão das ruas. O povo brasileiro vai para a rua para garantir a Democracia”.
Empresários e grandes grupos de mídia fazem recuo político
Nos últimos dias aconteceu um amplo recuo de segmentos das elites econômicas e de grandes grupos de mídia, que reduziram a pressão sobre o governo Dilma e passaram a defender a governabilidade, nas condições que vamos tratar a seguir. E por que aconteceu este recuo? Voltamos ao artigo de Paulo Nogueira: “Mesmo com o desgaste dos anos e de alianças bisonhas, o PT tem uma base social que ninguém pode subestimar. O Brasil entraria numa convulsão, e a direita sabe disso. Toda a raiva acumulada pela campanha de ódio da direita se traduziria em ódio na mesma medida da esquerda, e o país poderia virtualmente entrar numa guerra civil”.
Ion de Andrade, em artigo publicado no Blog Tijolaço, no dia 16 de agosto, diz que há mistérios no recuo da direita: “O conflito aberto eclodiria levando o país a um cenário imprevisível e catastrófico. A direita armou o bote e depois, despertada sabe-se lá por qual conjunto de variáveis premonitórias, reconheceu que teria um preço a pagar. O peso gravitacional das variáveis que vieram à luz do dia, (manifestações patronais, resistências anunciadas dos movimentos sociais, risco econômico, etc) não me parece suficiente, aliás, para justificar tamanho e tão largo recuo da complexa e cara estratégia golpista montada há meses. Num movimento concertado TODOS os setores golpistas recuaram. Difícil de entender com o que sabemos”.
Ion de Andrade diz que as instituições brasileiras passaram no “no teste de stress”: “A crise atual testou os limites das ambições golpistas e a capacidade de resistência da democracia brasileira. A guerra segue adiante e sem quartel, mas, ao que parece, as instituições passaram no teste de stress. O teatro macabro se encerra com o ato do dia 16 que passa a figurar como o gran finale e não mais como o preparador de um golpe a ser perpetrado pelo TCU/Câmara Federal com a rejeição das contas do governo de 2014 ou via TSE com a abertura de um processo de revisão das contas de campanha da presidenta, já aprovadas por unanimidade. Do lado de cá, no dia 20, a nossa manifestação deve ser a festa cívica de uma nação que se levantou, é crítica ao governo, mas não aceita perder as conquistas democráticas, nem viver novo ciclo autoritário e entreguista. Festa de bodas a do dia 20 tem que ser grande. Bodas democráticas”.
Acordão proposto pelas elites pressupõe uma presidenta Dilma sangrando, um programa político atrasado e Lula fora das eleições de 2018
Ricardo Noblat, um dos principais articulistas do jornal O Globo, escreveu um artigo que expressa bem a opinião de segmentos das elites brasileiras: “O que você prefere? Dilma até o fim? Ou a possível volta de Lula?” Para o jornalista Ricardo Noblat, é melhor deixar a presidente Dilma Rousseff completar seu mandato. “Primeiro porque faltam razões robustas para propor o impeachment dela. Segundo porque a deposição de Dilma poderá fortalecer as chances de uma nova candidatura de Lula a presidente”. O que as elites temem é que com o afastamento de Dilma, Lula vai para a oposição e volta nos braços do povo em 2018. Mas o que não se confessa é o seguinte: é preciso manter Dilma fraca e sangrando até 2018, porque uma melhoria do seu governo também pavimentaria o caminho para a volta de Lula. Assim, o acordão proposto pelas elites é baseado no tripé: Dilma fraca e sangrando; programa político que afaste ainda mais a presidenta de sua base social; e medidas legais e ilegais para evitar a candidatura de Lula em 2018.
Como se vê, o recuo das elites é um fato a ser comemorado. Mas a disputa política será intensa nos próximos meses e anos. Luís Nassif, um blogueiro de perfil moderado, alerta para os riscos e oportunidades da situação atual: “O presidente do Senado Renan Calheiros apresentou a primeira agenda clara de discussões. Fica claro que a trégua política oferecida pela mídia estava amarrada à aceitação dessa agenda”.(...) “Finalmente, tem-se um norte para começar a se discutir. Poderá ser a saída ou o fim de Dilma Rousseff. Se ela decifrar o pacote, souber incorporar as propostas de racionalização, mas preservar pontos centrais de cidadania, vence. Caso contrário, poderá ser interpretado como adesão integral a uma bandeira política e econômica que não é sua”.
Breno Altman, em artigo publicado no Brasil 247, analisa situações internacionais de crise política, e adverte para os riscos do governo Dilma: “Mas vale a pena extrair, dos eventos narrados, fenômeno político que atravessa distintos cenários e épocas: um governo que perde laços de identidade com as classes e agrupamentos que lhe deram origem, passando a depender de deslocamentos no campo adversário para sobreviver, está condenado à paralisia e ao esvaziamento”. (...) “Sua queda ou continuidade passam a estar condicionadas principalmente por interesses de inimigos e aliados, pois dificilmente conta com forças próprias para decidir a seu favor ou influenciar de forma determinante qualquer disputa”. (...) “O desespero pela sobrevivência, a mais perversa armadilha das relações políticas, costuma deslocar o eixo gravitacional das vítimas dessa síndrome para programas pertencentes a blocos político-ideológicos que lhes são estranhos ou antípodas”.(...) “Sem agenda própria ou capacidade de iniciativa, administrações atoladas nesta situação podem sobreviver por certo tempo, mas geralmente acabam consumidas por decisões erráticas, recuos desordenados e hesitações incuráveis”.
Por fim, Paulo Nogueira, do Diário de Centro do Mundo, também faz um alerta: “Antes que os progressistas festejem, que fique claro que um acerto patrocinado pela Globo representa uma nova Carta aos Brasileiros. Adeus à esperança de pautas mais avançadas, como a regulação da mídia. Para os genuinamente progressistas, a resposta vai estar nas ruas. A Carta aos Brasileiros – pela qual Lula se comprometeu a seguir numa trilha conservadora – imobilizou os movimentos sociais petistas, com consequências devastadoras para eles e para o PT. Terminada oficialmente a palhaçada que pretendia cassar 54 milhões de votos, o novo Brasil vai ser moldado por quem tiver mais força nas ruas. O resto, como escreveu Shakespeare, é silêncio”.