Ricardo Paes de Barros: “Sem igualdade de oportunidade não há meritocracia”

13/02/2016 | Política

O economista Ricardo Paes de Barros tem uma formação liberal, mas isso não o transforma em um defensor cego da meritocracia. Em matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, ele afirma de forma corajosa: “Sem resolver a desigualdade de oportunidades, ficar falando em meritocracia é piada”. Outro exemplo recente de que merece destaque é o anúncio de Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, que irá doar 99% das ações que tem da empresa para instituições de caridade para avançar o potencial humano e promover a igualdade na sociedade. 

A deputada Marília Campos também acredita que não dá para falar seriamente em meritocracia sem se avançar de forma profunda nas políticas de promoção da igualdade, em particular em um país tão desigual como o Brasil. A petista apoia as políticas distributivas para melhorar a qualidade de vida da população e apoia também medidas emergenciais – como as cotas – para ampliar as oportunidades dos mais pobres e dos negros(as). 

Veja a seguir a matéria do jornal Valor Econômico com Ricardo Paes de Barros: 

Para Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor no Insper, discutir meritocracia em um país tão desigual em oportunidades como o Brasil não faz sentido. “Sem resolver a desigualdade de oportunidades, ficar falando em meritocracia é piada. Como discutir o mérito de quem chegou em primeiro lugar em uma corrida onde as pessoas saíram em tempos diferentes e a distâncias diferentes?”, questiona Paes de Barros, um dos principais especialistas em desigualdade social. “Não faz nenhum sentido discutir o mérito em uma regata na qual os barcos não são iguais, ou em uma corrida de Fórmula 1 em que não se está sujeito ao mesmo regulamento.” Para ele, o país já avançou ao reduzir a discriminação, que ocorria até nas escolas, contra alunos menos favorecidos.

“No passado havia ações, tradições e procedimentos que reforçavam a desigualdade que vinha da família. Porque uma coisa é eu pegar uma criança de família desestruturada e não conseguir ensinar. Outra coisa é dizer: não vou nem ensinar esse aí, porque não aprende mesmo”. O professor ia para escola em um bairro pobre e nem se esforçava muito em ensinar. Era discriminação”, afirma Paes de Barros, que acredita que o que falta agora é discriminar os alunos positivamente, dedicando a eles toda a atenção extra necessária.

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Hoje, diz, a sociedade considera natural a existência de “educação de pobre e educação de rico”. Essa postura precisa ser combatida. “Você está naturalizando o fato de que uma criança pobre pode aprender menos, e uma criança rica tem que aprender mais. É o conformismo, o naturalismo”, afirma.

“Temos que sair de ações que discriminavam negativamente, não para ser neutro, mas para discriminar positivamente”, diz Paes de Barros. “A escola tem que ser um lugar onde a gente reduz desigualdade e trata de maneira diferente pessoas que precisam mais. Pegar os que entram em desvantagem e tentar eliminar essa desvantagem, porque o objetivo final da escola não é lavar as mãos e deixar que a desigualdade seja reproduzida. O objetivo da escola é eliminar essa desigualdade inicial e fazer com que todo mundo saia igual, e aí sim ser meritocrático”, explica.