
Roberto Brant: “Uma ponte para o futuro”, programa de Temer, não foi feito para enfrentar o voto popular”
Em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo, na segunda-feira, 18/04/2016, Roberto Brant, um dos assessores mais próximos de Temer, cometeu um “sincericídio” amplo, geral e irrestrito. Disse que o programa de Temer – ‘Uma ponte para o futuro’-, não foi feito para enfrentar o voto popular. Com um programa desses não se vai a uma eleição”. E frente às dificuldades que serão enfrentadas no Congresso Nacional, Roberto Brant afirma que a aprovação das propostas programáticas de Temer “vai ter que ser meio na marra”.
O Mandato da deputada estadual Marília Campos (PT/MG) tem priorizado nesta crise política o debate programático. Neste post abordamos o “sincericídio” de Roberto Brant. Veja a seguir os principais trechos da entrevista repugnante de Roberto Brant ao jornal Estado de São Paulo:
Não se ganha eleição com o programa de governo de Temer – “Uma ponte para o futuro”
Roberto Brant afirma: “O PMDB tem consciência de que as reformas são profundas. O Michel tem. O Moreira (Franco, ex-ministro do governo Dilma e presidente da Fundação Ulysses Guimarães) também. Não posso falar por todos. Esse documento não foi feito para enfrentar o voto popular. Com um programa desses não se vai para uma eleição”.
Esta análise confirma o que já publicamos no site da deputada estadual Marília Campos (PT/MG): “Para a oposição impeachment é um meio; o fim é um programa liberal de cortes radicais nos direitos do povo. O impeachment é, portanto, uma tentativa de impor um enorme ‘estelionato político’ ao povo brasileiro, com a consolidação de uma ‘democracia relativa’. Não terão que se submeter às urnas para aprovar o corte nos direitos do povo; o presidente que irá implementá-lo será alçado através de um golpe branco. Depois de empossado, as estratégias serão: a adoção de uma agenda positiva para as forças emergentes do golpe; um combate severo ao legado dos governos do PT e de seus aliados; a constituição de uma base sólida no Parlamento, na mídia e no aparelho de estado; e o encurralamento das forças de esquerda que tentarem estabelecer uma resistência ao desmonte de nossas conquistas”.
O povo não aceita as medidas impopulares
Roberto Brant reconhece quer o povo quer mais avanços e não aceita os retrocessos: “As medidas que são tomadas são impopulares. O conjunto da sociedade não tem obrigação de compreender essas questões herméticas de orçamento, Previdência, de relações Banco Central e Tesouro Nacional. Não tem noção do que seja a trajetória da dívida. E as pessoas querem mais. Elas não querem menos. Se perguntar os que elas esperam do Estado brasileiro, vão dizer que querem mais. Mais saúde, mais educação, mais segurança pública, mais infraestrutura e menos impostos. Os brasileiros são iguais a todos os homens da terra. Agora, as pessoas não sabem a violência da doença que tomou conta do Estado brasileiro. Na implantação desse programa, não se pode escolher duas ou três medidas. Precisamos de todas”.
Esta análise de Roberto Brant só vem confirmar as palavras de Renato Meirelles, em uma longa entrevista ao jornal Valor Econômico, que publicamos no site da deputada Marília Campos. Meireles afirma que a desaprovação de Dilma se dá por razões diferentes em partes das Classes A e B e na Classe C: “Existe uma dificuldade de alguns agentes políticos entenderem as diferenças dos 80% da população que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Desses, 36% não gostam da Dilma e também não gostam do Prouni, do Fies, do Mais Médicos, das cotas nas universidades, ou seja, de um conjunto de políticas públicas que fizeram na última década o Brasil viver um processo de redução da desigualdade”. (...) “Renato Meireles afirma que os 44% que avaliam mal o governo Dilma, a maioria da Classe C, é porque os programas dos governos do PT não foram ainda mais ampliados: “A ausência de uma visão clara sobre para onde vamos e sobre a garantia da manutenção de políticas públicas de um Estado que promova igualdade de oportunidades e que reduza a desigualdade social sem dúvida tira muitas pessoas da classe C da passeata. De um lado organiza mais a classe A e B, a parcela que há tempos não estava satisfeita com os rumos do país, mas afasta o eleitorado médio. Se 36% odeiam a Dilma e tudo o mais, 44% dos brasileiros que estão insatisfeitos com a Dilma avaliam mal o governo justamente porque ele não ampliou o Fies, o Prouni, não promoveu aumento real do salário mínimo, não cumpriu promessas de campanha, de redução de desigualdade que, no limite, fizeram Dilma ganhar a última eleição presidencial”.
Como se vê, a Frente pró-impeachment de Dilma, que já estava se enfraquecendo, vai se desfazer rapidamente em um eventual governo Temer. Os mais ricos querem menos Estado e menos impostos; os mais pobres, especialmente da classe C, querem mais Estado e mais direitos sociais. Especialmente os mais pobres, e mesmo setores da classe média, sentirão o gosto amargo de terem apoiado o impeachment, que, no final das contas, poderá ser uma tragédia para o amplo projeto de inclusão social dos últimos anos no Brasil.
Roberto Brant afirma que “vai ser preciso um tranco no Congresso e aprovar as medidas meio na marra”
Roberto Brant reconhece que o Congresso Nacional deverá impor resistência ao plano ultraliberal uma “Uma ponte para o futuro”: “Eu fui deputado federal por 20 anos. Fui constituinte. A partir de certo ponto, a gente não conseguiu aprovar mais nada. No começo, há muita disposição. Depois, ela se esvai. O Brasil tem uma condição sui generis. No resto do mundo, as coisas são regidas por leis ordinárias. (No Brasil) Todas as reformas são constitucionais. É preciso três quintos dos deputados e duas votações na Câmara e no Senado - com essa Câmara e esse Senado. Eu não queria estar no lugar dele. Precisa fazer reforma na Previdência, e a turma que perder o governo vai para rua falar contra. Lula vai chorar em praça pública. Precisa desvincular benefício social do salário mínimo. Vai ser um Deus nos acuda. Agora, o sistema político brasileiro está preparado para fazer as mudanças? (...) “Não. Nem sei se a sociedade está. Mas o Brasil chegou ao ponto tal que não há outro remédio do que dizer a verdade. Quando você está com uma doencinha, o médico pode embromar e ir levando. Mas se a doença é grave, e o médico não contar, o paciente (vai) morrer, feliz, mas vai morrer. O primeiro princípio da governança é dizer a verdade. Vai ser preciso pedir 15 a 20 minutos de rede nacional e dizer a verdade sobre o que vem pela frente. Se não, as pessoas vão achar que, votado o impeachment, podem voltar para casa e começar a gastar por conta. Elas precisam saber que o Estado está arruinado”.
Roberto Brant afirma que, para não decepcionar o mercado e manter a lua de mel com a classe dominante (empresários e grande mídia) que as medidas terão que ser aprovadas “meio na marra”, mas não explica como isso será feito. Ele afirma: “Vai ser preciso ser rápido no Congresso. Dar um tranco. E veja bem: um governo breve, de 2 anos e meio, que não vai aspirar um futuro longo a não ser o reconhecimento da história. Não vai ser aplaudido hoje, porque medidas econômicas produzem efeitos não quando são tomadas, mas só lá na frente. E, veja bem, este governo não estava preparado para sair agora. Vai desalojar muitas pessoas, e a maioria não têm lugar no mercado de trabalho. Esse pessoal vai fazer um barulho muito grande. Se não tiver uma energia sobrenatural, uma força para dialogar e convencer o Congresso, não sei se vamos muito longe. Vai ser preciso agir muito rápido. E sem mandato da sociedade. Vai ter de ser meio na marra”.
José Luís Fiori alerta para a insensatez da dobradinha dos políticos golpistas e dos economistas ultraliberais
O site e o Facebook da deputada Marília Campos (PT/MG) já publicou diversas vezes a advertência dramática feita pelo sociólogo José Luís Fiori, um dos maiores intelectuais brasileiros, sobre insensatez da dobradinha dos políticos golpistas e dos economistas ultraliberais. Veja a seguir uma parte de um artigo publicado no ano passado no jornal Valor Econômico.
O sociólogo José Luiz Fiori, em artigo publicado em setembro de 2015, afirma: “Nas últimas semanas, a imprensa escalou um grupo expressivo de economistas liberais, para formular as ideias e projetos do que seria o governo nascido do golpe. Sem nenhuma surpresa: quase todos repetem as mesmas fórmulas, com distintas linguagens. Todos consideram que é preciso primeiro resolver a “crise política”, para depois poder resolver a “crise econômica”; e uma vez “resolvida” a crise política, todos propõem a mesma coisa, em síntese: “menos estado e menos política”.
Fiori faz a seguinte pergunta: “Na conjuntura atual, como entender o encontro e a colaboração destes economistas liberais com os políticos golpistas?” Ele responde: “O francês, Pierre Rosanvallon, dá uma pista, ao fazer uma anátomo-patologia lógica do liberalismo da “escola fisiocrática” francesa, liderada por François Quesnay. Ela parte da proposta fisiocrático/liberal de redução radical da política à economia, e da transformação de todos os governos em máquinas puramente administrativas e despolitizadas, fiéis à ordem natural dos mercados. E mostra como e porque este projeto de despolitização radical da economia e do estado leva à necessidade implacável de um “tirano” ou “déspota esclarecido” que entenda a natureza nefasta da política e do estado, se mantenha “neutro”, e promova a supressão despótica da política, criando as condições indispensáveis para a realização da “grande utopia liberal”, dos mercados livres e desregulados”.(...) “Foi o que Rosanvallon chamou de “paradoxo fisiocrata”, ou seja: a defesa da necessidade de um “tirano liberal” que “adormecesse” as paixões e os interesses políticos e, se possível, os eliminasse”.
José Luiz Fiori comenta a experiência chilena: “No século XX, a experiência mais conhecida deste projeto ultraliberal, foi a da ditadura do Sr. Augusto Pinochet, no Chile, que foi chamada pelo economista americano, Paul Samuelson, de “fascismo de mercado”. Pinochet foi - por excelência - a figura do “tirano” sonhado pelos fisiocratas: primitivo, quase troglodita, dedicou-se quase inteiramente à eliminação dos seus adversários e de toda a atividade política dissidente, e entregou o governo de fato a um grupo de economistas ultraliberais que puderam fazer o que quiseram durante quase duas décadas”.
Fiori conclui que a adoção do programa liberal proposto pelos golpistas é incompatível com a democracia e poderá levar a um enfrentamento e rebelião civil de grandes proporções no país: “No Brasil não faltam - neste momento - os candidatos com as mesmas características e os economistas sempre rápidos em propor, e dispostos a levar até as últimas consequências, o seu projeto de “redução radical do Estado” e, se for possível, de toda atividade política capaz de perturbar a tranquilidade dos seus modelos matemáticos e dos seus cálculos contábeis”. (...) “Neste sentido, não está errado dizer que os dois lados deste mesmo projeto são cúmplices e compartem a mesma e gigantesca insensatez, ao supor que seu projeto golpista e ultraliberal não encontrará resistência e, no limite, não provocará uma rebelião ou enfrentamento civil, de grandes proporções, como nunca houve antes no Brasil”.