Vale, com gestão privada, teve o seu valor na Bolsa reduzido de R$ 302,811 para R$ 55,452 bilhões. Entenda o porquê
A Vale – ex-Vale do Rio Doce – tinha um valor de mercado de R$ 8 bilhões, quando foi privatizada em 1997. No ano de 2011, seu valor atingiu o pico de R$ 302,811 bilhões, um crescimento espetacular de 3.670% em 14 anos. Os liberais comemoraram este crescimento e a “genialidade da gestão privada” de uma empresa que era considerada uma “sucata estatal”. No entanto, a Vale privatizada desabou o seu valor na Bolsa nos últimos quatro anos e agora tem valor de mercado de apenas R$ 55,452 bilhões. Qual a explicação agora desta brutal reversão na empresa? Veja a seguir a verdade dos fatos.
Tonelada do minério de ferro caiu de US$ 191,70 para apenas US$ 38,80
O jornal Estado de São Paulo, publicou, no dia 09/12/2015, uma ampla matéria com a seguinte chamada de página: “Em quatro anos, preço do minério cai 80% e Vale perde R$ 247 bilhões na Bolsa”. O jornal informa: “Desde o início de 2011, quando as cotações do minério e das ações estavam no pico, a Vale perdeu R$ 247 bilhões em valor de mercado, medido pela multiplicação da cotação pelo total de ações. Em fevereiro de 2011, a tonelada do minério de ferro chegou a ser negociada a US$ 191,70. Desde então, o preço do minério de ferro caiu 79,7% para US$ 38,80, e as ações da Vale foram junto. Agora, a mineradora brasileira encerrou o pregão valendo R$ 55,452 bilhões, em comparação a R$ 302,811 bilhões, na máxima de janeiro de 2011, segundo dados da consultoria Economática”.
Portanto, a Vale privada se agigantou menos pela “gestão eficiente” e mais em função da disparada do preços das commodities, como no caso do minério de ferro, no mercado internacional puxada pelo “milagre chinês”. A Vale divulgou, em 2009, números sobre a sua produção e lucratividade no período do boom do minério que explica o que estamos dizendo. Segundo dados da própria Vale, no período de 2003 a 2008, a produção de minério de ferro, principal produto da empresa, aumentou 60%, passando de 188,3 para 301,6 milhões de toneladas métricas. A receita bruta passou de US$ 5,545 bilhões para US$ 38,509 bilhões, uma evolução de 595%. O lucro da Vale, com a explosão dos preços no mercado internacional, subiu, no mesmo período, 753%, passando de US$ 1,548 bilhões em 2003, para US$ 13,218 bilhões em 2008. Assim, os números indicam claramente que a lucratividade da Vale está ligada, acima de tudo, ao comportamento da economia internacional (aumentos do consumo e principalmente dos preços), e não à suposta genialidade de seus dirigentes e controladores.
As versões apresentadas pelos tucanos e pela mídia para a valorização das estatais privatizadas são risíveis. Tomemos o exemplo da Vale do Rio Doce, que esteve no centro de uma enorme polêmica com o governo Lula. A versão de FHC: “Algumas dessas empresas tiveram um sucesso estrondoso graças ao trabalho que desenvolveram, caso da Vale, hoje controlada basicamente pela Previ e Bradesco”. Revista Veja: “A Vale é um orgulho pelo colosso empresarial que se tornou, principalmente, depois da privatização, em 1997. (...) Os números da mineradora são inquestionáveis”. Folha de S.Paulo: “A Vale sob ataque especulativo da sanha estatizante é, porém, caso exemplar de privatização bem sucedida. O lucro líquido foi multiplicado por 29. Se há algo que o governo deveria fazer em relação à Vale é retirar, completamente, seus tentáculos da mineradora”. É preciso denunciar o privatismo e a versão de que tudo o que é estatal é ineficiente. Não podemos aceitar a privatização da Petrobras, BB, Caixa, BNDES e de outras empresas estatais fundamentais para o nosso desenvolvimento.
Vale embolsou lucros e quer repassar prejuízos da Samarco para governos
A Vale do Rio Doce foi privatizada na baixa quando valia apenas R$ 8 bilhões. Os sócios privados embolsaram lucros bilionários com a explosão dos preços no mercado internacional e ganharam ainda a isenção tributária das exportações previstas na Lei Kandir. Minas Gerais, como grande exportador de minério de ferro, foi quem mais perdeu. Agora a Vale vive, como diz o Estadão, uma tempestade perfeita: a) o minério de ferro desabou no mercado internacional e a empresa vende ativos, reduz investimentos, demite e não repõe a perda salarial de seus funcionários; b) uma das empresas controladas, a Samarco, protagonizou o maior desastre ambiental do planeta na área mineral, o que atinge frontalmente a Vale. Tem-se uma situação onde a Vale, com valor de mercado de R$ 55,452 bilhões tem pedidos de indenizações (a serem repartidas com BHP) de R$ 40 bilhões. A empresa precisa ser preservada, mas não se deve aceitar a máxima do capitalismo brasileiro: privatizar os lucros e estatizar os prejuízos.