Vittorio Medioli: “Minas vai à falência”

12/02/2016 | Economia

Ícones da economia mineira como Vale, Samarco, Açominas (hoje Gerdau) e Acesita (hoje AcelorMittal), as construtoras Mendes Júnior e Andrade Gutierrez apresentam quedas de receitas que nunca foram imaginadas em suas longas trajetórias. Defrontam-se com quadros sombrios no curto prazo. A Fiat (agora FCA) amarga 50% de carros vendidos a menos que em 2012.

Se nesta altura as coisas são preocupantes, no andar de baixo, no cinturão de fornecedores e prestadores de serviços, os ventos já levam empresas embora como folhas secas no inverno.

A produção industrial de Minas precipitou em 12% até dezembro de 2015, um desastre que ainda se acelera. Em janeiro deste ano, o setor automotivo registrou um afundamento de 39,8% sobre janeiro de 2015, que foi um dos piores da história.

O Estado de Minas Gerais voltou a ter níveis de produção como os da década de 90, apesar de a população ter crescido 20% desde aquela gloriosa década.

As sirenes já tocavam em 2014 durante a campanha presidencial, entretanto, no lugar que caberia a uma figura de ampla visão, a reeleita Dilma Rousseff deu as rédeas a Joaquim Levy, saudado pela imprensa especializada e pelo próprio PSDB como “um dos nossos”. Na realidade, um fracasso sem precedente que poderia ser considerado o cavalo de Troia que fez ruir a cidade petista. Ele está para o Brasil assim como o tsunami foi para a Tailândia ou a guerra de 1964 para o Vietnã.

Maior desgraça seria impossível. A economia nacional perdeu o rumo e aniquilou a competitividade. A dívida pública subiu para R$ 3,9 trilhões e representa 66% do PIB.

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Levy, enquanto tentava aumentar impostos para arrecadar mais R$ 50 bilhões, elevou os juros pagando R$ 501 bilhões a banqueiros. Para arrecadar R$ 50 bi a mais, aumentou o serviço da dívida em R$ 180 bilhões. Perdeu 5,6% de arrecadação. Um aprendiz de costas para a realidade faria melhor.

E Dilma pretende ainda a CPMF, o mais regressivo dos impostos, um golpe a ser pago pela economia popular e com mais desempregos. O que falta ao Brasil é moralidade dos agentes eleitos, é cortar pela metade os cargos e os gastos do Legislativo e também o número de cargos de nomeação ampla. Implantar austeridade e respeito com o que se tira do contribuinte.

As culpas não são todas de Levy, mas ele se prestou a fazer apenas o interesse dos especuladores. Concedeu aos bancos os maiores lucros de todos os tempos – Bradesco R$ 17,2 bilhões e Itau R$ 23,3 bilhões - , enquanto o Brasil se desgraçava e afundava num histórico desemprego. Esse “equívoco de Levy”, como criticado pelas melhores inteligências econômicas do planeta, devastou a economia brasileira. Na contramão de dar ênfase ao crescimento da produção como solução para fugir da queda de arrecadação e dos desequilíbrios sociais, aumentou juros, impostos e asfixiou as atividades econômicas. No Brasil, se matou exatamente a produção, que é como aumentar água na garganta de alguém que está se afogando.

A crise em Minas decretou 200 mil desempregados em 2015, e esse número catastrófico poderá se repetir já no primeiro trimestre de 2016 com mais uma quebra: a Usiminas.

Considerada a estrela da siderurgia brasileira, a empresa de Ipatinga, engasgada com dívidas e prejuízos bilionários, está para fechar as portas.

A deterioração da histórica siderúrgica de Minas determinou-se não apenas pela conjuntura adversa e nem pela briga entre sócios – de um lado, os nipônicos da Nippon Steel, e, do outro, os ítalo-argentinos da Ternium.

A Usiminas vinha se reestruturando com a gestão dos “argentinos”. As ações na Bovespa chegaram a seu melhor momento, R$ 14, e a credibilidade protegia a empresa. Entretanto, o acordo entre acionistas foi ruidosamente implodido pelos nipônicos, com acusações que até hoje não passam da ineptidão. O grupo Ternium, até pela falta de articulação política no Brasil, perdeu a queda de braço; os diretores saíram e, de lá pra cá, a empresa entrou em parafuso com ações não valendo um insignificante 5% do já que valeram há dois anos.

Joaquim Levy de fora e um grupo desastroso de dentro reduziram a geração de caixa em 18 vezes, até esvaziá-la; o saldo de liquidez hoje não cobre um dia de necessidades. A insolvência se dará a qualquer momento. Os bancos exigem um aporte de R$ 4 bi de capital dos acionistas para diminuir a exposição e ainda querem avaliar um plano de recuperação que não existe.

Como um barco que quebrou o leme, perdeu as velas e bateu num rochedo, a Usiminas está afundando. Os japoneses, conhecidos pela frieza e orgulho, parecem dispostos ao haraquiri antes de recuarem de suas posições.

Na Cidade Administrativa, na última sexta, o nervosismo estava no ápice. A Usiminas se perdeu e, por fim, perdeu também a credibilidade e o crédito. Sua avaliação internacional precipitou para CCC1. Quer dizer: empresa falida.

Que os japoneses percam aqui alguns bilhões, para eles pode não fazer diferença, mas para Minas será uma catástrofe de desemprego e perda de renda. O Vale do Aço, vermelho de lama da Samarco, pode se transformar num vale das lágrimas da Usiminas.

Agora sobra para o governo de Fernando Pimentel, que se queixa de ter encontrado as contas do Estado arrasadas com divida de R$ 100 bilhões e com déficit anual de R$ 7 bilhões – números que foram “fantasiados” ao longo do governo tucano. A falência da Usiminas vai exigir muito dele para evitar a perda de milhares de empregos e encontrar uma arrecadação que se perdeu, fundamental para o erário mineiro.