Vittorio Medioli: “O PT tem razão. Passou da hora de Levy”
Jornal O Tempo - 18/10/15
A capacidade de tolerar o plano de ajuste de Joaquim Levy se esgotou internamente ao PT e externamente nos meios sindicais, empresariais e da opinião pública em geral. Assim como caiu Aloizio Mercadante, por pressão do PT, chegou a hora de Joaquim.
A execução da sentença não tardará.
Tem razão o PT.
Levy fracassou. A economia afunda, e, sob os escombros, quem está sendo amputado pelos blocos econômicos em queda são os petistas.
Levy não soube apresentar nenhum plano compensatório para as medidas arrasadoras que integram sua receita de enfrentamento. Parece até estar conduzindo uma conspiração para deixar o Brasil barato para os investidores externos e os banqueiros engordados pela Selic.
A crise se complicou e vem se transformando em caos.
O confisco desregrado, e improdutivo, mira em especial os setores que vivem de trabalho e atividades, não o consumo, como é de regra numa economia civilizada. Coloca-se a conta no lombo da economia produtiva e formal para pagar gastos tanto inúteis quanto fúteis.
A farra de despesas públicas foi autorizada neste ano na contramão da conjuntura. Vejam-se os escandalosos repasses aos fundos partidários, ao Legislativo, aos setores que ficam secando o erário.
O Banco Central aumentou o custo de manutenção da dívida pública em plena recessão, esfolou a resistência econômica. Tirou ainda oxigênio do doente, que entrou em agonia. A máquina pantagruélica e obesa ficou insuportável para o sistema.
Aniquilou-se a credibilidade do país, levando investimentos em rota de fuga. Quem estava com dívidas em dólares dobrou seu saldo negativo num mercado que encolheu e se complicou. Empregos saem pelo ralo, nem tanto pela crise internacional, mas pelos horrores nacionais.
A marolinha lá fora virou tsunami aqui dentro. A blindagem criada pelas entidades dos trabalhadores a Levy e cia. passou a ser incômoda aos seus líderes, demandados de atitudes contra o desemprego. A retirada de Levy chegou a ser consenso.
A dívida pública aumenta, ao ritmo de uma Selic inutilmente elevada, em R$ 2,5 bilhões por dia, ou R$ 70 bilhões por mês. Neste ano a dívida passará de R$ 2,24 trilhões para R$ 3,1 trilhões em 31 de dezembro 2015. A dieta “levyana” terá transferido R$ 800 bilhões a saldo do sistema financeiro (bancos) em prejuízo da União.
Quer dizer, crescimento de um salário mínimo por habitante a cada mês. E, pior, a nação deverá pagar ao sistema financeiro na forma de sacrifícios e mais impostos.
Emagrecendo a cada mês, as atividades econômicas arrecadam menos. Levy pretende destruir assim o sistema produtivo, que não se reveste de qualquer importância atrás das lentes que carrega.
Não possui bagagem, competência nem conhecimentos para elaborar um plano mais complexo e equilibrado.
Cortar na carne dos outros, anestesiando o poder público com concessões descabidas. Lembra a “ingênua” Maria Antonieta, que, ao ser avisada de que faltava pão para o povo, aconselhou a distribuir os brioches que sobravam na corte de Versalhes.
A CPMF, a grande proposta de Levy, no passado levantou a suspeita do maior desvio de contribuições do planeta. Nunca bateram as contas entre PIB e arrecadação de CPMF.
Duas CPMFs foram enterradas, e não por menos. Na previsão de Levy, com alíquota de 0,38%, arrecadaria apenas R$ 68 bilhões, depois rebaixou o valor para R$ 44 bilhões. Resta explicar como uma economia formal de R$ 5,5 trilhões em PIB, e mais de R$ 1 bilhão em informal, considerando ainda as múltiplas operações oneradas pela CPMF, arrecadaria o equivalente a um terço daquilo se produz e comercializa. O PIB de 2014 foi R$ 5,5 trilhões, e 0,38% = R$ 209 bilhões em arrecadação. Sem contar com a informal e as transações múltiplas, muitas das quais nascem e se esgotam no mesmo banco, abrindo brecha para bilhões de desconfianças.
O Brasil e os contribuintes estão sendo bem informados?
Levy, em dez meses, conseguiu acumular fracassos catastróficos certificados pelos indicadores econômicos e de desemprego, pelo rebaixamento do Brasil do primeiro para o último escalão internacional.
Em situações muito piores de conjuntura mundial, no governo de Itamar Franco (após o desastre Collor), um ministro (não economista), Fernando Henrique Cardoso (sociólogo desenvolvimentista), pegou o Ministério da Fazenda de uma economia em frangalhos e lançou as bases do real, sem sustos ou mortalidade de empregos, possibilitando um ciclo virtuoso que durou 21 anos e se encerra agora nas mãos de Joaquim Levy.
Se a física ensina que para a matéria existe uma antimatéria, que existe um começo e um fim, estamos vivendo exatamente esse momento transformador.
Lula mostrou as unhas, no decorrer da última semana, e arranhou mortalmente Levy. Imaginar que o ministro resista à pressão é até possível, mas altamente improvável.
A crise abala, também, o Legislativo, e as referências na rota a ser percorrida estão, como nunca, incertas. O limite de suportação está por um fio.
Eduardo Cunha, desmoralizado, deverá abandonar o cargo em breve, talvez usando de uma delação (comentada nos bastidores) que tem o poder de uma bomba atômica.
O Brasil está se afundando numa crise que chama pela necessidade de um pacto nacional; resta encontrar quem possa assumir sua condução.