Wanderley Guilherme dos Santos: “Destruir Lula é silenciar a voz dos pobres e dos humilhados. É inaceitável!”
Wanderley Guilherme dos Santos, 80 anos, é nosso principal cientista político. Neste artigo, ele analisa as tentativas de destruição de Lula e afirma que o que se quer “é calar a voz dos pobres e dos humilhados, o que é inaceitável”. É absolutamente óbvio que o ódio, que se destila atualmente, não é apenas contra Lula, mas, sobretudo, contra o que ele representa. Lula deu protagonismo político aos pobres e humilhados deste país.
Antes, durante décadas, os pobres das periferias das grandes cidades, do Norte e do Nordeste viviam uma vida de resignação: “Vivemos assim na miséria e no esquecimento, porque Deus quer”. Numa democracia, vige o princípio de “cada cidadão, um voto”. Na hora do voto, um grande empresário ou os donos da Globo só tem um voto, como qualquer outro brasileiro de todas as classes sociais. Lula transformou “a maioria social em maioria política”, na expressão do historiador Luiz Felipe de Alencastro, ao liderar quatro vitórias da esquerda em 2002, 2006, 2010, e 2014.
Lula liderou a maiores transformações sociais do Brasil Republicano. O que se quer com a tentativa de destruição política do petista é “silenciar novamente a voz dos pobres e humilhados”. Querem que eles voltem para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: da miséria e do esquecimento. A prisão de Lula e as enormes reações pelo país na última sexta-feira mostram que não será fácil destruir Lula. A sociedade está se mexendo, e até cidadãos mais idosos, como Wanderley Guilherme dos Santos, conclamam para a hora do “basta”! e afirma que “no grito, não mais!”. Veja a íntegra do artigo de Wanderley a seguir.
PREPARAR PARA A HORA DO “BASTA”!
Blog Segunda Opinião – 04/03/2016
A investigação Lava está à beira de implodir em razão do delírio ideológico dos promotores e do Juiz por ela responsáveis. A retórica desabrida, satanizando tolices, a desinformação e, pior, a antecipação de lances futuros, alguns fora da competência do Juizado curitibano, dificultam a distinção do que é prestação de contas, propaganda, dissimulação e wishfulthinking. A palavra “indício”, por exemplo, deixou de “indicar” algo e passou a gigantesca evidência, como o enxofre, da inconfundível presença do demônio. O óbvio planejamento de intervenções espetaculares de acordo com a temperatura política, e o crescente atrevimento com a descabida e prepotente condução coercitiva do ex-presidente Lula da Silva, resultam da complacência das autoridades superiores, no Executivo, Legislativo e Judiciário Trata-se de comportamento inquisitorial pré-concebido, insultando frontalmente as crenças cívicas da maioria dos pobres brasileiros e contaminando negativamente as expectativas da população, em geral.
À falta de, até agora, comprovados crimes de acumulação econômica ilegal, por parte do ex-presidente Lula, policiais e procuradores transformam um inquérito da mais absoluta pertinência e tempestividade em malabarismos de sessão matinal circense em torno de pedalinhos, um sítio e um tríplex. Ainda que fossem doados mediante recursos de uma “vaquinha” entre todas as grandes empreiteiras nacionais, e durante o mandato do ex-presidente, a questão é: e daí? – Sem comprovação de que alguma delas foi direta e ilegalmente beneficiada por intervenção do presidente (e não a mera suspeita, pois alguma sempre ganhará concorrências) aceitar os pedalinhos seria criticável, mas de limitado atentado à moral e ao patrimônio público. Ora, não só não apareceram provas, nem mesmo, ao que saiba oficialmente, delação de ninguém a respeito de nada, como os procuradores estão desviando o olhar da população do que é fundamental: a acumulação econômica ilegítima via predação de patrimônio e recursos públicos. Com o aplauso dos que consideram que delação justifica coação e até prisão estão dando cobertura ao diversionismo midiático, cúmplices dos ladravazes enriquecidos por acumulação econômica ilegítima.
Comparar o absurdo acúmulo pessoal de riqueza por parte de empresários, políticos e altos burocratas a um sítio supostamente presenteado a Lula, é sandice, péssima utilização do mandato investigativo que a sociedade lhes paga: onde estão as contas no exterior, coleções de obras de arte, veículos, propriedades rurais e urbanas para exploração econômica, viagens regulares por conta própria e passadio de primeira em Paris, Londres, Nova Iorque? Onde se esconde o acervo de joias de d.Mariza? E seu guarda-roupa de grife? Sítio em Atibaia e tríplex em Guarujá que nem do casal são? Ora, trata-se de outra manifestação de preconceito, presumindo que Lula, de origem pobre, tisnaria sua dignidade e a da função que ocupou interferindo nas ações públicas por preço tão vil. Claro, corrupção mesmo, a sério, só para eles, bem nascidos e mal acostumados.
Os responsáveis pela investigação devem um balanço claro da Lava-Jato e da expectativa de prazos de conclusão. Claro que a descoberta de evidências (não “indícios”) provoca alteração em cronogramas, mas a existência de um quadro de referência é indispensável para que o jornalismo possa acompanhar e a opinião pública possa avaliar se estão sendo eficientes e produtivos ou meramente difamadores e garotos propaganda de televisão.
Com a coação física e moral do ex-presidente Lula os responsáveis pela Lava-Jato talvez venham a se revelar indignos dos privilégios que desfrutam. O ex-presidente é um dos mais importantes recursos políticos dos miseráveis deste País, líder de governos capazes de provocar justamente esse ódio amparado em toga. Destrui-lo, seria uma derrota imensurável para os pobres e humilhados; destruí-lo injustamente, aproveitando os privilégios de classe e corporação, é inaceitável. Se for comprovada a precipitação e o infundado da coação ao ex-presidente, o insulto não poderá passar em branco. Juízes e procuradores deverão pagar pela ameaça em que se constituíram aos pobres do Brasil. Pedidos de desculpa serão insuficientes. Hora de preparação para o que estão pedindo. No grito, não mais.