Wilson Ferreira: Audiência da Globo desaba devido ao pessimismo e baixo astral de uma TV que também é um partido político
A Rede Globo lidera no Brasil a estratégia do “quanto pior, melhor”, com uma programação que mostra um Brasil onde nada presta, a exceção do “Criança Esperança” apresentado como um programa social espetacular. A Globo está provando de seu próprio veneno. Seus negócios enfrentam dificuldades, com a fuga de patrocinadores, como no caso do futebol, e aumento da dívida em dólares. Agora, o comentarista Wilson Ferreira, com base em pesquisas da própria emissora, afirma que a queda na audiência se deve, entre outras razões, ao pessimismo e ao baixo astral da Emissora que ninguém está suportando mais.
Wilson Ferreira fala da queda violenta da audiência das novelas da Globo: “ Será que a culpa é da Internet? Ou as séries do Netflix seriam as culpadas? Será que o gênero é uma vítima do sucesso das tecnologias de convergência? São vários os diagnósticos do porquê da atual crise de audiência do principal produto da TV Globo – as telenovelas. Talvez sejam diagnósticos muito apressados por conterem o desejo político pelo fim do monopólio da Globo. Mas as pesquisas qualitativas com telespectadores feitas pela própria emissora têm uma pista: falam em “teledramaturgia pesada” e “desesperança” desde a novela “Em Família” . Em sua escalada oposicionista a Globo recruta as telenovelas como mais uma bomba semiótica, rompendo o sutil equilíbrio entre romantismo e realismo, projeção e identificação que sempre marcou o sucesso do gênero – a ficção deve agora reforçar subliminarmente o “quanto pior, melhor” do telejornalismo. A Globo estaria vivendo o efeito colateral da sua condição esquizofrênica: ser uma empresa e ao mesmo tempo um partido político”.
O comentarista detalha mais o seu ponto de vista: “Portanto, a minha hipótese para a atual crise das telenovelas globais (e principalmente no horário nobre da emissora) residente numa evidente “politização” da teledramaturgia na escalada do papel de oposição política que a Globo assumiu. O clima de baixo astral que domina a pauta do telejornalismo atual com rostos cada vez mais patibulares de seus âncoras (a voz cada vez mais grave e os olhos apertados de Bonner; as olheiras cada vez maiores de William Waack e Sandra Annenberg; o olhar debaixo para cima com olheiras igualmente crescentes da comentarista econômica Miriam Leitão etc. – até o jovem Evaristo Costa, sempre as voltas com pautas positivas começa a ensaiar feições deprimidas) deve agora também invadir a teledramaturgia com crônicas sobre um país afundado em vilania, corrupção e imoralidade. Numa estratégia de reforço metonímico, as telenovelas devem reforçar na ficção a desesperança e pessimismo exibido antes no Jornal Nacional. E parece que a atual crise de audiência das telenovelas é um indesejável efeito colateral para uma emissora que, no final das contas, é uma empresa como outra qualquer”.
Paulo Nogueira debita queda da Globo à internet e ao baixo astral
Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, analisa o colapso de audiência do Jornal Nacional: “Leio que pela primeira vez o Jornal Nacional perdeu, no Ibope, no Rio de Janeiro. Foi batido por uma novela da Record. Mas o que mais me chama a atenção na notícia é a audiência do JN: 20 pontos. E isso em seu reduto carioca. Esse desempenho sofrível – não de um dia, não de uma semana, mas prolongado – torna interessante uma pergunta. Quanto o drama de audiência do JN é fruto do mercado e quanto é fruto do trabalho de seus editores. Que a internet é a principal razão, não há dúvida. A Era Digital tornou obsoleta a tevê como a conhecemos. As pessoas crescentemente consomem vídeos na internet, em seus celulares ou, em menor parte, tabletes. Na hora em que querem, do jeito que preferem. Para empresas que vivem da tevê, como a Globo, é uma tragédia”.
Paulo Nogueira destaca também que o baixo astral do Jornal Nacional é responsável pela fuga de telespectadores: “Um breve e superficial exame meu, como jornalista, sugere que o JN é um produto com sérias deficiências. A maior delas é o peso dedicado às más notícias. Vou simplificar. Nos tempos da ditadura militar, o Brasil era pior do que o Brasil mostrado no JN. Agora, o Brasil é melhor do que o Brasil mostrado no JN. Por trás de tudo há uma intenção política. Sob a ditadura, Roberto Marinho se empenhava em produzir um noticiário que beneficiasse os generais, em troca de privilégios. Hoje, descrever um país à beira do colapso e mergulhado num mar de lama é parte de uma tentativa de colar no PT o carimbo de inepto e corrupto. Isso prejudica o conteúdo e, consequentemente, afasta mais espectadores do que a internet, sozinha, faria. Talvez não adiante nada demitir Kamel e Bonner se essa lógica perdurar. Os novos editores fariam um JN tão ruim quanto os velhos. Uma boa comparação é com a Veja. Trocar os editores é inútil se a Abril não alterar a missão da revista: eliminar o PT. Uma coisa é certa: a Globo tem um grande problema com seu principal telejornal”.